segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Que estúpida!

Sou estúpida. Não há nada a fazer. Tenho de o aceitar e aprender a viver com esta condição. Idiota, fraca, incapaz de ser fiel a algumas decisões, de espírito fraco, sei lá que mais.
Por outro lado no meio desta estupidez toda percebo que nunca na vida estive muito tempo sem estar apaixonada. Nunca tive um intervalo entre amores, nunca estive sem suspirar por alguém. Se deixava de gostar de alguém era porque tinha começado a gostar de outro. Por isso estava a custar-me tanto deixar o Nandinho para trás. Ele tinha feito com que deixasse de suspirar pelo João, saltei de um para o outro. E agora? Salto para quem? Não há ninguém à vista, nem uma paixonite aguda, nem pelo sex symbol do secundário. Por isso continuei com o João. Agarrei-me ao que me dava. Cheguei até a querer gostar tanto dele como tinha gostado, mesmo que isso me fizesse chorar, e me deixasse de rastos. Agora era correspondida, parecia que sim.
Mas não consegui. Não chegava a atenção que recebia dele. Agora que me dava o que eu queria, sabia a pouco. Queria mais, outra coisa diferente. E voltei ao Nandinho. Fui fraca. Um mês depois de o chamar idiota, de pensar que era tão ou mais estúpido que todos os homens que já tinha conhecido, liguei-lhe. Nem sabia se tinha alguma coisa para lhe dizer, mas liguei-lhe. Dei o meu ar de graça no seu telemóvel. E quando ele me respondeu ao telefonema o sorriso idiota voltou a colar-se à minha cara e teima em abandonar-me. Está aqui até agora. Porquê? Porque me disse para lhe telefonar quando voltasse a Lisboa. Porque já estou a pensar no nosso reencontro e já só espero que não me dê muito tempo para falar e me ataque de uma vez. Porque quero chorar de novo porque alguém não quer saber de mim. Serei normal?

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Caramba! Não basta os homens já serem poucos, os giros menos ainda e ainda temos de engolir em seco quando sabemos que mulheres como a Sónia Braga andam com rapazes como o Sidney Sampaio. Ele era bom para mim, não para ela. Será que não viveu aventuras suficientes para ainda ter que arrebatar um giro daqueles? Roubá-lo do mercado? Assim a balança vai ficar sempre desequilibrada.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Acabei de ler o livro da Margarida Rebelo Pinto. Quando ia a meio dei-me ao trabalho de começar do princípio e sublinhar todas as passagens com que me identificava. Foram muitas, mesmo muitas. Parecia que me lia o pensamento, que era eu que escrevia. Nunca gostei muito dela, confesso. Talvez fosse aquela inveja de mulheres, pelo que ela tem que eu sempre quis. Mas enquanto lia o livro só me apetecia falar com ela, perguntar-lhe se tinha vivido mesmo aquilo. Como era possível duas pessoas viverem a mesma história com 2 anos de diferença? (Até no tempo estávamos em sintonia, já que termina o livro com a data de 28 de Fevereiro de 2005.) Ou será que nós mulheres vivemos os nossos amores e as nossas perdas da mesma forma?
Ela escreveu o livro. Eu li-o e sublinhei. Podia copiar tudo, mas seria demais. Sugiro aos interessados que o comprem. Ela escreveu ao seu amor, eu sublinhei a minha ideia de amor. Não amei o Nandinho, nada disso. Nem de perto. Mas gostei dele, da ideia de amor que me deu. É estúpido, mas deu-me mais num mês do que tive durante a vida inteira. É a isso que digo adeus. Aos abraços, à cumplicidade, à confiança, ao poder ter sido.
Queria mandar-lhe o meu livro, todo sublinhado, despedir-me dele a preceito. Mostrar-lhe a minha coragem com estas confissões. Mas é uma coragem que não existe, por isso não vai saber do meu desgosto. Não vai saber da minha vontade de amar e ser amada. De como no entretanto a minha vida é cinzenta. Não vai saber como o apago da minha vida, de como deixo de falar dele, de como fujo das suas fotografias, da sua voz na rádio, de como prefiro não saber o que tem feito, como se sente, qual o seu estado de espírito. Não quero notícias dele, quero voltar ao tempo em que não o conhecia.
E depois um dia vai telefonar-me (os homens telefonam sempre quando cheiram que estão a perder uma das suas conquistas) e eu vou fingir surpresa quando estava à espera daquele telefonema há meses e meses. Vou dizer que está tudo bem, perguntar pelas novidades, fingir-me muito feliz e que nunca me partiu um bocadinho do coração.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Ouço “The blowers daughter” do Damien Rice e lembro-me de ti. Lembro-me de dizeres que ouviste esta música vezes sem conta depois de veres o filme “Closer”. Eu também, sabias? Sem darmos conta até tínhamos mais afinidades do que pensávamos. A Natalie Portman é a minha actriz favorita, sabias? Gosto mesmo dela. E não to disse. Não queria que pensasses que apenas concordava contigo, que apenas dizia “eu também acho” aos teus comentários. Queria que me achasses inteligente, erudita, que não me catalogasses apenas pela música que julgavas que eu só ouvia, ou pelos livros que achavas que eu só lia. Eu era muito mais que isso. Sou mais que isso. Mas nunca te preocupaste em conhecê-lo. Não valia a pena. Apenas ficavas intrigado com a minha escrita. Como é que consegues escrever tão bem se só lês livros da treta?, perguntavas.
Mas ri-me no dia em que confundiste a Audrey Hepburn com a Natalie Portman. Que erro tão mau para alguém que se mostrava tão espertalhão, que lia livros tão bons e só ouvia música da melhor. Como é que não reconheceste a foto da cigarrilha que é a imagem de marca da Audrey? Será que viste o clássico Breakfast at Tiffany’s ou ficaste pela Guerra das Estrelas Episódio I, onde a Natalie entrou? Será que sabes que há filmes como o Casablanca ou E tudo o vento levou? Se calhar estou a abusar. Mas é só para que saibas que sou tão inteligente como tu, que se calhar a cultura de massas não faz mal a ninguém.
Agora escrevo-te aqui, onde sei que não vais ler. São os meus desabafos. Ficam para a posterioridade, para o público. Só tenho pena que não te lembres de mim quando ouves “The blowers daughter”, ou quando olhas para a foto da Audrey e recordes a minha denúncia perante o teu erro.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Dei por mim a ler o “Diário da tua ausência” da Margarida Rebelo Pinto. Era dos poucos livros que tinha comigo ainda por ler, o resto está em Lisboa. Foi uma prenda de anos da minha tia e aguardava na prateleira que pegasse nele. Ia pegar, gosto de apreciar as prendas que me dão. Nunca devolvo nada, nem troco, mesmo que não seja do meu agrado à primeira vista. Se mo deram, se perderam tempo a escolher algo para mim, então faço um esforço para gostar.
Então, depois do Paul Auster saltei para a Margarida R. Pinto. Comecei a ler e pensei “letras grandes, devo lê-lo todo hoje”. Depois comecei a reconhecer-me no que lia. Também eu não sabia viver sem amor.
Tento ocupar-me com tudo o que a vida me vai dando, mas há dias em que o vazio é mais forte, em que as palavras não me saem dos dedos para me acompanharem na solidão do meu trabalho, e no qual só elas me podem acompanhar. Há dias em que me sinto cansada, vazia, esgotada, sem nada para dar. Nesses dias, enrosco-me numa manta como um bicho, desligo o computador e vejo televisão, tentando alhear-me da minha tristeza, esperando que o dia seguinte me traga a energia que preciso para trabalhar.”
Ela escreveu isto, mas esta sou eu. Só acrescentava que também esperava que o dia seguinte me trouxesse um encantamento, um amor.
Chego a meio do livro e faço uma pausa. O meu pai está a pedir explicações de inglês e de repente sinto-me irritada, expulsa do meu transe, de me estar a ler escrita por outra pessoa. Ou será que as mulheres são todas assim?
Fecho o livro e fico com a fotografia da Margarida virada para mim. Observo os folhos da camisa branca, imagino a sessão de fotografias até chegar àquele olhar meio doce, meio desiludido, meio cínico, meio alerta e só depois me digno a ler o texto que está ao lado. E leio-te a ti na primeira frase. De repente sinto-te perto de mim de novo. Se ela escreveu “quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa”, tu perguntaste-me se já tinha reparado que as pessoas que gostam uma da outra têm sempre tempo. Se ela continua com “e se ela não vem ter connosco, nós esperamos”, Tu dizias que gostavas que eu tivesse mais tempo para ti. Lembras-te disto? Que estranho que as coisas se tivessem invertido. Quem virou o mundo de cabeça para baixo? Eu? Tu?

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

No outro dia disse à minha prima que estava no auge, sentia-me em cima, contente comigo mesma. Ninguém tinha poder sobre mim para me deixar triste. Estava aí o Carnaval e ia divertir-me. E diverti. Até que ouvi uma resposta estúpida que não gostei. Depois alguém repetiu o nome do Nandinho 3 ou 4 vezes ao meu ouvido e perguntou onde ele estava. O rancor que estava bem afundado no oceano flutuou até cima tal uma bóia de salvamento e passei-me da cabeça. Fiquei mal disposta, irritada. Porque é que me estavam a fazer aquilo? E o João? Onde é que estava o João para me levar para um canto escuro? O meu auge desceu até ao fundo do poço e durante uns minutos tive de pôr a caraça da euforia e da felicidade enquanto por dentro me recompunha, subia de novo nos saltos. Não foi difícil. Geralmente a atenção de algum rapaz que em algum momento na vida admirei é a cura perfeita. E tive a atenção de alguns desses rapazes. Não esqueci o meu afundanço, mas lentamente começava a subir à superfície.
Com isto tudo o auge ficou para trás. Estou a meio. Porque continuo à espera que alguém me telefone. Ou um, ou outro. A diferença é que há algum tempo atrás, na mesma situação, já tinha passado 2 ou 3 noites a chorar, a pensar que me tinham abandonado, a sentir-me dispensável, de pouco valor. E agora só espero. Sei que mais tarde ou mais cedo telefonarão. Vão procurar-me e dizer que têm saudades minhas. Sei que vai acontecer e não me preocupo com o quando. Tenho paciência e é só esperar e ver o que acontece no entretanto. Depois logo se vê como respondo ao telefonema, a vontade que tenho de falar com algum deles. Mas isso já não é problema meu. É outro departamento.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Acho que nunca contei como foram as minhas primeiras semanas com o Nandinho, quando gostei mesmo dele e ele gostou de mim. Quer dizer, gostei dele porque ele gostava de mim e me dava atenção. Era tudo o que eu precisava na altura, como a história do abraço no dia do acidente.
Os nossos grandes momentos foram nesse tempo, depois disso foi sempre a descer. Fiquei com o síndroma do encantamento pelo super herói. Vivia Nandinho e respirava Nandinho. Falava com ele quase todos os dias. Fui para o Brasil de férias e via o email todos os dias sedenta de notícias dele. Nos dias que não as tinha reclamava e elas vinham. Escreveu-me coisas giras, coisas lindas que guardo como tesouros. Queria mostrá-las às minhas amigas para que vissem que eu não estava louca, que ele devia gostar mesmo de mim. Mas não o fiz, ele não deixa, diz que são só para mim. E eu concordo.
Depois volto do Brasil e é a primeira pessoa a quem ligo. Não foi à minha mãe, foi a ele, ainda durante o desembarque. Falámos e falámos e eu parecia uma perdida com um sorriso de orelha a orelha colado à cara. Combinámos encontrarmo-nos no dia seguinte. Fomos almoçar e passear na praia à casal romântico. Até andou comigo às cavalitas! Depois, relutante, deixou-me em casa. Queria dormir comigo. Parecia disposto a tudo para o fazer. "Vamos para a minha casa nova na Caparica. Vais adorar." Naquele dia não fui, mas fui no outro. Ele fez quase 100km para me vir buscar e levou-me. "Gostava que fosses a primeira a vê-la", escreveu num email. Fui e dormi com ele. No dia seguinte não me telefonou e comecei a descer das núvens.
Destas coisas lembro-me bem, das coisas boas, o resto está tudo meio confuso. Ainda estava no centro do seu mundo, não sabia de nada do que se passava à volta. Depois comecei a estar mais tempo com ele, dormi na sua casa algumas vezes e vi a minha atenção desaparecer. Eu estava lá, mas era invisível. Telefonemas, computador, trabalho, trabalho, trabalho.. Até me dizia que não conseguia escrever comigo a espreitar por cima do ombro. E eu pensava "mas o que é que estou aqui a fazer?" Comecei a ver os defeitos, comecei a achá-lo chato, a não lhe achar assim tanta graça. Irritava-me quando me contava a mesma história pela terceira vez. Mas quando dormia com ele, ele abraçava-me e isso valia tudo o resto.
Entretanto deixei de receber emails com coisas giras, já nem respondia aos que lhe mandava, deixei de receber sms a dizer que tinha gostado de estar comigo. Acho que me tornei numa espécie de assistente pessoal. "Vem comigo ao IKEA comprar coisas para a casa nova porque me magoei nas costas e não consigo conduzir." "Ajuda-me com este livro que tenho de ler para o programa de amanhã." "Vamos às compras ao Freeport, que preciso de roupa." "Bem que me podias ajudar na produção dos **** awards. Mas não precisas ir à entrega." E eu deixei...
Depois começou a escrever novas cartas de amor, mas não foi a mim que as enviou. Depois começou a dar-me presentes repetidos, que guarda em stock em casa para as visitas femininas. Acabaram-se os passeios, os jantares a dois e as conversas telefónicas superiores a 2 minutos. E olhem que novidade me dá "é verdade que também me apareceu outra pessoa na minha vida." Boa sorte para ela.
Bem que lhe disse, na útima vez que estivemos juntos, que ia ser mesmo a última. Vi como recusava telefonemas de outra rapariga e a chamava chata com aquelas chamadas e com mensagens. Não me ia pôr nessa situação. Parece que estava a adivinhar.
Nessa noite mal me abraçou durante o sono.

Um dia mau

Este dia não tem sido bom para mim há já alguns anos. Primeiro é um prenúncio do dia dos namorados que vou passar sozinha, como sempre. Não que me queixe, mas deixa sempre o gosto amargo na boca. Depois, foi o dia em que a minha avó 'Lina morreu, e ela foi a minha 2a mãe durante a minha infância e até ter ficado doente. É também o dia de anos da namorada do João e tive sempre o fantasma das comemorações a dois a perseguir-me. E agora, que estava livre disso tudo, acordo para um dia que ia ser normal. Ouço o Nandinho a contar histórias nos desenhos animado e adormeço de novo, a minha mãe telefona-me e desperto para a vida. Levantei-me e fui directa ao computador para ligar a internet. Ando a ver alguns episódios da Anatomia de Grey que ainda não foram transmitidos cá em Portugal, e estava a ver como estava o download de alguns. Surpresa, surpresa. Tinha à minha espera mais uma história para me atormentar neste dia.
Ontem tinha mandado um email ao Nandinho a "ralhar", porque não me telefonava. Não me dizia nada há 15 dias. Hoje tive a resposta. Ao que parece sou demasiado gira para perder tempo com ele, e para além disso também apareceu outra pessoa na sua vida. Não que não o soubesse, mas lê-lo por escrito por ele foi como um murro no estômago. Até fiquei sem ar. Que cena! Em 3 meses fui ultrapassada!
Já imaginava que algo do género se tinha passado. Já não era nada do que foi quando nos conhecemos, nem reconhecia qualquer ligação entre nós. Mas deixei andar. Não tinha nada melhor para fazer. E agora acabou. Não sei o quê, mas acabou.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Carnaval

Gosto do carnaval. Gosto mesmo. Quando era mais nova nem por isso. A minha mãe obrigava-me a ir com ela assistir a um desfile na terrinha ao lado da nossa, do qual só me lembro de ver homens vestidos de mulher, e do carro da rainha da festa. Depois fiz 18 anos e comecei a beber. Comecei a beber e a gostar do João. Ou seja, bebia e aproveitava para andar meio atrás dele sem me preocupar com nada. É claro que a razão principal pela qual gosto do carnaval é mesmo a que posso beber o que quiser e fazer as parvoíces que quiser e ninguém nota. Estão todos a fazer o mesmo. Tem sido sempre assim nos últimos anos. Ao longo do ano quando saio nem danço, só bato o pé e abano a cabeça. Mas no carnaval até subo para cima do balcão do café. Solta-se a louca que há em mim.
Então este ano pedi os dias de folga para poder estar à vontade. Posso beber o que quiser que tenho tempo para a ressaca. Até parece mal uma senhora falar assim, mas é a verdade. Não fumo, nem me drogo, mas bebo. Não é preciso muito para sair de mim, mas faço-o de propósito. Quero mesmo fazer as asneiras que não fiz durante o resto do ano. O grande mal é que o alcool actua um pouco como afrodisíaco em mim. Ao fim da noite só me apetece enroscar em alguém, mas acabo por ir sempre sozinha para casa. Menos mal, safo-me de problemas de cariz maior. Só que nos últimos dias só penso em telefonar ao João para lhe informar que o quero levar para um canto escuro. Devo estar a variar. Ainda não bebi e já estou a alucinar. Já nem gosto dele. Não falo com ele há uma semana, nem tenho vontade disso, mas levá-lo para o escuro e saltar-lhe em cima já quero.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Volta Zequinha!

Estava a fazer zapping, numa estadia solitária no hotel da Póvoa do Varzim em que a televisão é a minha melhor amiga, quando deparei com um senhor, com um boneco com forma de pássaro animado enfiado no braço, a cantar. Era aquele programa novo da RTP em que se revelam talentos e a actuação deste senhor estava a acabar. A música devia ir a meio, mas os juris não quiseram ouvir mais e chumbaram-no na audição. Não me lembro como se chamam estas pessoas, que conseguem falar sem mexer os lábios, nem nunca gostei destas actuações com bonecos. Dão-me arrepios, qualquer coisa relacionada com filmes de terror como o Chuky. Aquele que aparece num programa da SIC faz-me mudar de canal imediatamente. No entanto o Zequinha prendeu-me ao ecran. O senhor estava tão nervoso que fazia o bico do passaroco tremer. Mas o sorriso estava colado à cara. Era o seu truque. Por detrás dele fazia a voz do Zequinha. Quase me levou às lágrimas. Estava a ser dispensado, recusado pelo juri e o sorriso continuava colado à cara para que o Zequinha continuasse a falar, para que ele se despedisse com a sua voz infantil, desiludido por ir embora. Que triste que foi. "Pronto, tem mesmo de ser. Vamos embora. Xauzinho." E lá se foi o senhor com o seu sorriso e o seu passaroco Zequinha que se não se calava enquanto deixava o palco. Quase como uma criança que não entende porque é que não pode ter umas sapatilhas iguais às dos amigos. Porquê? Eu até me porto bem na escola. Porquê? Porque é que estes senhores não me querem ver mais no palco? Porque tenho o bico a tremer? Porquê? E lá se acabou a actuação. Volta Zequinha! Volta!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Pela primeira vez em 26 anos levaram-me o pequeno almoço à cama. É triste admiti-lo, mas é a verdade. Nunca tive uma noite perfeita, com um acordar perfeito, daquelas histórias à filme. Nada de jantares romanticos, nem velas, nem música suave, nada disso. Tive sempre coisas práticas - comer, dormir, acordar e ir embora. Talvez seja a velha ideia "cada um tem o que merece". Se calhar nunca fiz nada para merecer uma dessas noites. Mas pelo menos, na semana passada tive direito a uma caneca de leite com chocolate, que nem gosto, e de uma bola com queijo e fiambre, coisa que também não seria a minha primeira escolha. Pelos menos o pão estava quentinho. Pois, se tivesse sido a minha mãe a trazer-me isto, num dia em que estivesse doente e não conseguisse levantar-me da cama, tinha ouvido um grito e sido obrigada a fazer-me outra coisa qualquer com aquele amor de mãe que nunca acaba. Mas como foi o Nandinho, que, no meio do seu dia muito ocupado, gastou alguns minutos a preparar alguma comida aqui para a menina, comi caladinha. Só saiu uma breve reclamação, um "só gosto de leite com chocolate frio" muito baixinho. Mas como o fez, lá bebi o que consegui, enquanto tentava ignorar as natas que boiavam na caneca. As coisas que uma pessoa faz.

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