sábado, 31 de março de 2007

Em recuperação

Escrevi isto da lavagem ontem. Depois daquela noite horrorosa e de ter chegado a casa e chorado durante meia hora, acabei por só dormir 5 horas. Levantei-me da cama depois de falar com uma amiga ao telefone e de contar mais ou menos o sucedido. Os homens são mesmo anormais. Não há nada a fazer. Aquele caso com o Nandinho estava condenado, arrumado. Sem recuperação possível.
Não ia estar nem mais um minuto em Lisboa. Ainda há poucas horas, tinha dito a uma colega, a quem tinha dado boleia para casa, que sempre que ficava em Lisboa era para fazer alguma asneira. Estava confirmado. A asneira estava feita.
Voltei para a terrinha para passar as folgas logo que consegui enfiar uma roupa decente, acalmar o estômago que passava por uma ressaca dos dois copos que bebi e enfiar a roupa que tinha vestida na noite anterior num saco para ir direita à máquina de lavar. Abri as janelas para arejar aquele cheiro a tabaco e álcool que pairava no ar e vim embora. Óculos de sol postos. Olheiras profundas por baixo.
Cheguei à hora de almoço. A minha mãe esperava-me e só me perguntou se estava mal disposta. Estou de ressaca, respondi-lhe. Não quis alongar mais o assunto. Se falasse no desastre que tinha sido a noite ia chorar mais um bocado e não gosto de chorar à frente de ninguém, nem da minha mãe. Ainda mais, quando lhe telefonei para dizer que ia ficar em Lisboa para sair com o Nandinho, ela perguntou-me se afinal ele não tinha uma namorada. ‘Ó mãe, sei lá se tem uma ou duas. Isso não me interessa.’ ‘Assim não vais lá,’ disse-me. Pois claro que não.
Enfiei uma fatia de pão-de-ló pela goela abaixo, com uma caneca de café, e saí de novo. Tinha combinado ir ao café com a melhor amiga. Uma das. Continuava horrorosa. Com olhos inchados pelo choro, pela noite mal dormida, pela ressaca. Nem me preocupei em disfarçá-lo. Hoje é um dia não. Mal me sentei ela disse-me “Vou pedir-te para subornares o Nandinho”. Olha que raio! Será possível?! Disse-lhe que provavelmente não ia voltar a falar com ele e vomitei um resumo da história. Sempre com o sorriso idiota de quem é muito forte mas está destruída por dentro. Ela já deve estar farta de o ver, mas nem comenta. Sabe como sou.
Voltei a casa e escrevi-lhe, ao Nandinho. Tinha dito que o ia fazer. Que ia ter uma carta de reclamação. Despejei tudo. O que raio andava a fazer comigo? Se sabe que só faz asneiras, porque continua a insistir? A resposta veio logo depois. Gosta de estar comigo, mas no momento devíamos fazer uma pausa. Mais um murro no estômago. Lá me fui enfiar no chuveiro e chorar que nem uma perdida. Pela última vez.
Vesti-me e fui lanchar com as minhas primas. Ficar em casa não faz bem a ninguém. Na pastelaria disse-lhes, a elas e à minha mãe, que mais uma vez tinha deixado de falar com o Nandinho. Justificação: é estúpido, não há nada a fazer.
Encontrei a minha amiga que se separou do marido, apaixonada por outro, e ouvi as suas queixas. (Tem graça, ultimamente não ouço uma pessoa dizer bem dos homens com quem estão. As que estão bem não dizem nada, as outras só dizem mal.) Tadinha dela. Os últimos tempos não têm sido nada fáceis. Se não estivesse tão cansada e tão em baixo ia jantar com ela, tirá-la de casa. Mas ontem não ia ser capaz de levantar o ânimo de ninguém.
Regressei a casa. Pelo caminho não resisti em ouvir o Nandinho na rádio e tentar perceber se tinha a voz triste, se este episódio o afectou de alguma maneira. Que idiota que sou. Mesmo estúpida! Como se ele tivesse gasto mais de dois minutos a pensar em mim. Sim, pensar assim é um sintoma de ego em baixo. Mas no caso dele acho que é mesmo assim. Não perde tempo com chatices.
Cheguei e despejei a história da noite passada para o blog. Escrever é terapêutico. Li mais uma vez a frase “gosto de estar contigo…acho que devemos fazer uma pausa”.
Jantei uma fatia de pão com paio, bebi um copo de 7up e vi um pouco da telenovela nova da TVI. Entretanto eram 11 da noite. Continuava sem dormir. Parecia que queria que o dia não acabasse, que acontecesse alguma coisa que o fizesse virar ao contrário, que apagasse tudo. O meu lado positivo a funcionar quando não deve.
Fiz um sudoku na cama, depois outro, depois outro e finalmente desisti. Apaguei a luz e adormeci.
Acordei às duas da tarde! Renovada. Está sol lá fora. Com vento, mas ele brilha. O vento até é bom, leva as nuvens. Já não tenho lágrimas para chorar. Acabou-se. Pode ser que não, que ainda haja mais uma recaída. Mas essa será outra história, escrita noutro livro e com outras regras de pontuação.

Debaixo de água

Tomo banho. Lavo-me de ti. O pescoço onde me beijaste pela última vez, a cintura onde me seguraste. Quero eliminar-te de mim, esquecer o teu cheiro, o teu toque. Tomo banho e apago todo o teu rasto do meu corpo. Tenho de esfregar bem. Não pode ficar nada, nem uma única memória do teu braço sobre os meus ombros, do teu hálito na minha cara, do calor que me passavas quando caminhavas agarrado a mim. Tomo banho e lavo a alma de ti. Deixo-me chorar. Com as lágrimas vão todas as desilusões que me deste, todas as alegrias que me ofereceste. Choro e lavo toda a mágoa que ficou, a tristeza pela tua desistência, como se me tivesses dito cara a cara que não gostavas de mim. Lavo da alma a esperança que tinha de que gostasses, da memória dos dias em que gostaste. Deixo correr com as lágrimas toda a vontade de voltar atrás no tempo, de viver tudo de novo. Lavo-me de ti. Deixo que a água leve tudo com ela, que não deixe nada para trás. A roupa que tinha vestida vai para lavar. Não sei se a vou vestir de novo. Apago o teu número do meu telefone, o teu nome da minha vida. Quando me perguntarem por ti, vou dizer que já não sei quem és, que nunca te conheci.
Moving on…

sexta-feira, 30 de março de 2007


Antes de conhecer o João não acreditava na possibilidade de se gostar de duas pessoas ao mesmo tempo, não acreditava que alguma vez pudesse partilhar um homem com outra mulher. Nunca na vida, dizia. Se gostar de mim, é só de mim. Não pode haver outra mulher na história. Não foi o caso. Havia outra mulher, outras mulheres. Deixei-me ser a outra, nunca procurei ser a oficial. Deixei de acreditar em fidelidade. O Nandinho apareceu quando já vivia este sindroma. Sou a outra. Gosto disso? Não posso dizer nem que sim, nem que não. Gosto de os ver com outras e saber que no fim acabam sempre por me procurar, seja que dia for. Não gosto de ver toda a minha atenção roubada e ser posta em ultimo lugar. É o que mais odeio, e é o que eles fazem melhor. Os dois.
E chegamos à noite de ontem. Fui sair com o Nandinho e alguns amigos dele. Depois de me convidar, arrependeu-se. Tinha a certeza que não ia correr bem. Não correu, mas porque é estúpido, não pelas razões que apresentou. “Vais chatear-te porque vai estar lá a minha ex-namorada e outras amigas minhas. Vais dizer que não te dou atenção”. Com isso podia eu bem. Fui. Suportei quando mal falou comigo durante a viagem para a festa onde íamos. Suportei a noite toda longe dele, deixei-o fazer o que quisesse. Nunca procurei estar ao seu lado, nem falar com ele. Fazia de conta que não estava lá. Para quê? Para que se lembrasse de mim quando a festa estava no fim. Para que me dissesse que graças à minha presença tinha recusado um convite de uma rapariga em que estava interessado. Mas que merda é esta? Honestidade brutal? Desejo de vingança? Mas não me queria magoar, imagine-se. Disse-lhe que fosse dormir com quem queria. Quem era eu para impedir. Amuou. Naquela noite não ia dormir com ninguém. Como se isso fosse o prémio pela sua consciência limpa, como se me fizesse respeitá-lo mais. É claro que não. Faz-me achá-lo ainda mais estúpido.
Cheguei a casa e chorei e chorei. De repente, no meio da baba e do ranho, fiquei lúcida. Mas que raio é isto? Ele é muito esperto com esta história de ser honesto, de dizer que não me quer magoar. Tudo muito bonito, mas fá-las na mesma. Com a vantagem de ter dado a desculpa com antecedência, de já ter apresentado a sua explicação. “Sou assim, diz. Um grande cabrão.” Pois não o quero assim. Se é para acabar, acaba. Não tenho medo. Consigo viver sem ele, nem que seja sobreviver. Qual não te quero magoar?! Não o quer, não o faça.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Recaídas

Já percebi como tem sido a minha vida nos últimos anos. Primeiro com o João, agora com o Nandinho. Com o João era dependência pura. Para mim ele era pior que droga, penso que já o disse. Se não consumia, era uma morta viva. Depois passava a ressacada e quando estava quase desintoxicada voltava a consumir. Aí começava tudo de novo. Euforia, ressaca, desintoxicação, recaída. Com o Nandinho começa a ser o mesmo. Ele é uma droga mais leve, não envolve a paixão desenfreada e o amor psicótico que sentia pelo João. Mesmo assim começa a causar dependência. Depois do encontro há a euforia, depois a ressaca em que ando como um carneiro mal morto, e quando começo a erguer de novo a cabeça e a pensar que eu sou mais eu, que não tenho nada de andar cabisbaixa à conta de homens, quando tomo uma dose de João para despertar (que já não faz assim tanto efeito mas ajuda a elevar o espírito) e encarar de novo a vida com outros olhos, zás. Toca o telefone. Lá vem o Nandinho de novo oferecer mais uma dose de euforia.
Ando nisto há já uns anos. Não há maneira de aprender. Não sei ter uma relação normal. Não sei pedi-lo nem forçá-lo. Há quem me diga que é uma defesa. Defesa de quê? De ter alguém que goste de mim a 100%? Ou de ter de gostar de alguém a 100%?

segunda-feira, 26 de março de 2007

Vejam só a coisinha deprimente que escrevi ontem antes de ir dormir. Estaria com alguma falha de vitaminas?

Porque é que de repente me parece que, se não lhe telefonar, não se vai lembrar de mim? Começo a escrever-lhe um email e desisto a meio, como se o que escrevo deixasse de fazer sentido de um momento para o outro. Pego no telefone para lhe ligar e desisto antes de o fazer. Para quê? Para o lembrar que existo? Não devia ser ele a lembrar-se? É claro que me pode dizer exactamente o mesmo, que sou eu que não me lembro dele. Até parece.
Caraças! Apetece desistir de tudo. Não vejo luz ao fim deste túnel. O que é que ando aqui a fazer? A fingir que sou uma rapariga moderna, capaz de viver uma relação destas, sem laços, sem emoções, sem nada, que sou capaz de me esquecer que existe durante o tempo em que não o vejo ou não sei nada dele. Não sou nada moderna. O que sei é não chatear, não incomodar, não telefonar, não procurar. Aprendi isso tudo com o João, tirei o curso completo. Para que o iria fazer se não ia ter resposta? Só me ia chatear mais. Mas isso não quer dizer que não espere todos os dias que o telefone toque. E todos os dias adormeço tristinha. Para quê? Para ter aquelas doses de mimos quinzenais, que depois me perseguem e fazem suspirar? Não consigo. Não sou capaz. Não vale a pena.


Qual não consigo? Não quero, que é diferente. Assim não dá. Se não há maneira de mudar, acaba.

sábado, 24 de março de 2007

Vira o disco

Tenho dias em que me dá para a paixonite aguda. Olhos de carneiro mal morto, sempre a pensar no objecto de desejo/adoração, a cantar no carro músicas como “Otro día más sin verte” do John Secada (qué feito do homem?), a pensar que não vou aguentar mais e vou morrer de saudades. Revejo na cabeça cem vezes algum momento delicioso que tivesse partilhado com tal objecto, rebolo na cama agoniada com a angústia da separação, a sonhar com o próximo encontro, a olhar para o telefone e a rezar aos deuses do Olimpo para que façam com ele toque. E adormeço.
Acordo mal disposta. Homens? Não quero saber deles para nada. Que estúpidos! Vou ser independente. Não preciso deles para nada. Nem me servem para ir mudar o óleo ao carro! Onde estavam quando tive de carregar a mobília às costas quando mudei de casa? Onde estavam quando o candeeiro do meu quarto se incendiou e tive de subir a um escadote para o desmontar? Onde estavam quando fui às compras e precisava de alguém para me segurar os sacos? Onde estavam quando cheguei ontem cansada de um voo e precisava de uma massagem às costas? Onde?
Vão mas é passear!
Adeus John Secada!
Olá Kelly Clarkson!
Idiotas!

Kelly Clarkson - Walk away

Esta é para aqueles que merecem ouvi-lo. Indecisos, não sabem o que querem. Se não sabem, sabemos nós. Walk away. Desapareçam! Fica a letra para inspirar:

You've got your mother and your brother
Every other undercover
Tellin' you what to say

You think I'm stupid
But the truth is
That it's cupid, baby
Lovin' you has made me this way

So before you point your finger
Get your hands off of my trigger
Oh yeah

You need to know this situation's getting old
And now the more you talk
The less I can say, oh

I'm looking for attention
Not another question
Should you stay or should you go?

Well, if you don't have the answer
Why you still standin' here?

Hey, hey, hey, hey
Just walk away
Just walk away
Just walk away

I waited here for you
Like a kid waiting after school
So tell me how come you never showed?

I gave you everything
And never asked for anything
And look at me
I'm all alone

So, before you start defendin'
Baby, stop all your pretendin'

I know you know I know
So what's the point in being slow
Let's get the show on the road today

HeyI'm looking for attention
Not another question
Should you stay or should you go?

Well, if you don't have the answer
Why you still standin' here?
Hey, hey, hey, hey
Just walk away
Just walk away
Just walk away

I wanna love
I want a fire
To feel the burn
My desires
I wanna man by my side
Not a boy who runs and hides

Are you gonna fight for me?
Die for me?
Live and breathe for me?
Do you care for me?
'Cause if you don't then just leave

I'm looking for attention
Not another question
Should you stay or should you go?

Well, if you don't have the answer
Why you're still standin' here?
Hey, hey, hey, hey

Just walk away

If you don't have the answer

Walk away
Just walk away
Then just leave

Yeah yeah

Walk away
Walk away

By: Chantel Kreviazuk; Kara DioGuardi; Kelly Clarkson; Raine Maida

quinta-feira, 22 de março de 2007

Dizer que não

O João veio ver-me hoje. Mais uma vez queixou-se que já não lhe ligo, que já não gosto de estar com ele. Será verdade? Verdade é que não o convidei a entrar. Ficámos na entrada aos beijos e abraços e mandei-o embora. Tinha de ser. Por acaso hoje não me apetecia mesmo estar com ele. Não é o Nandinho que anda aqui a rondar na minha cabeça, como uma presença fantasmagórica. Nada disso. Antes dele já tinha dias destes, só que não tinha capacidade para lhe dizer que não. Fazia o que queria de mim. Agora já não. Devo ter mudado nalguma coisa para ter adquirido a capacidade da negativa. Ainda no outro dia alguém mo disse. “Epá! Tu só sabes dizer que não.” Foi pelos não que ficaram presos na garganta. Foram tantos que agora digo não até nos momentos em que devia dizer sim. Deixo de fazer coisas que devia fazer. Enfim, vivendo e aprendendo. O Joãozinho foi embora meio desiludido, meio contentinho. Agora só sabe dizer que gosta muito de mim. Há uns meses atrás nem se lembrava.

Cores novas


Com a Primavera vem uma nova imagem. Mais fresca, mais leve.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Gosto dele quando tenho os olhos fechados, quando não o vejo, quando não sei quem é. Penso que é mesmo a altura em que gosto mais dele, em que gosto mais de alguém. Fico sempre de olhos fechados, não os abro. Talvez espreite de vez em quando, confesso, mas uma piscada rápida para não interromper o deleite que sinto. Derreto quando me mima. Se estou de pé tem de me segurar para não cair no chão. Dá-me mil beijinhos pela cara fora, aperta-me as orelhas, aconchega-me o cobertor, e quando está deitado comigo abraça-me, encaixa-se em mim, agarradinho. Volta e meia pergunta “quem é que te mima muito?” enquanto continua a passar os dedos pelo meu cabelo, a dar-me um beijinho na testa, outro num olho, outro na bochecha e continua por aí fora. Sorrio. Um sorriso de orelha a orelha e continuo de olhos fechados. Respondo “o meu irmão”. É verdade. Anda sempre em cima de mim para me dar beijinhos. Ele insiste “quem é que te tapou no sofá para estares quentinha?” Foste tu Nandinho. Foste tu e isto não é nada bom porque me estás a fazer lembrar o que mais gostava em ti e amanhã, quando for embora, sei que só vou pensar nestes mimos e atenções, que só te vou ver daqui a duas semanas e que provavelmente mimas todas as meninas que levas a dormir à tua casa. Vou ter ciúmes delas. É claro que vou. Esses mimos deviam ser só meus. Todos os dias.
Vou continuar de olhos fechados, coladinha a ti, a querer ter-te sempre ali. Quando paras para dormir, que já são 4 da manhã, reclamo. Quero mais. E recomeças, beijinhos múltiplos na bochecha arrebitada por continuar a sorrir.
“Gosto de te mimar”, dizes.
“Gosto que me mimes”
“Vou estragar-te com mimos”.
Já estou estragada.

domingo, 18 de março de 2007

A minha mãe

Descobri isto no meu diário de 2000. Achei que devia ser partilhado. Não que lho diga directamente, à minha mãe, mas assim digo-o ao mundo e pode ser que o mundo lho transmita.

“A minha mãe. A mulher mais forte que conheço, a minha favorita Não somos muito de beijos e abraços mas gosto muito dela. Nunca lho disse, mas espero que saiba. A minha mãe, aquela que faz tudo por mim e pelo meu irmão. Defende-nos, protege-nos, trabalha dia e noite para termos o que queremos e sermos ingratos com ela. Sofre em silêncio, ultrapassa os desafios que o destino lhe trouxe e luta, luta por nós ainda que não lho agradecemos. Gosto muito da minha mãe. Adoro-a. Um dia queria ter a sua força, o seu espírito guerreiro e trabalhador. Mas às vezes sei que é frágil, tão frágil como o gelo debaixo do sol de verão. Ela sofre, sofre mais que nós todos, sofre por nós e às vezes nem percebemos que está lá. A minha mãe, a quem não dou o devido valor por ser egoísta e preguiçosa de mais, a pessoa mais importante na minha vida. A minha mãe, quem me trouxe ao mundo e ainda assim consegue ser mais jovem que eu. Gosto muito da minha mãe. Espero que ela saiba apesar de nunca lho ter dito.”

sábado, 17 de março de 2007

Hoje estou contente, ontem estive contente, amanhã vou estar contente. E não vou dizer porquê...

sexta-feira, 16 de março de 2007

Life is good


Volta e meia torno-me numa miúda confusa, baralhada. Não sei o que quero, nem o que pensar. Num segundo escrevo uma declaração de amor, no outro acho-a ridícula e que não tem nada a ver com o caso. Num momento acho que estou apaixonada, no outro não suporto a pessoa em questão, nem quero ouvir o seu nome. Porque é que sou assim? Porquê? Parece-me que é por ser mal amada, mal estimada, mal apreciada, mal ouvida, mal entendida, mal vista (não de má fama, mas mal olhada, não de feitiços também), mal tudo. É esse o grande mal. Nuns dias afecta-me, noutros não. Acho que até merecia ser bem tudo, bem amada, estimada, etc., etc., mas nunca calhou. Nunca tive essa sorte. Então obrigo-me a ser eu a gostar de mim, a estimar-me, a apreciar-me, a guardar os pequenos elogios como tesouros, mas com tantas cabeçadas às vezes até isso se torna difícil.
Enfim, hoje é um novo dia. Um dia em que gosto de mim. Acordei rabugenta, mesmo muito rabugenta, mas saí para a rua. Estive com as pessoas de quem gosto, que gostam de mim. Olhei mais uma vez para o sol e comecei a pensar nas férias que vou fazer, no tom bronzeado que vou ganhar. A vida é bonita, é para ser apreciada. Nada de homens a aborrecer, nada de pensar se telefonam ou não. Hoje sou mais eu. Quem não está comigo só perde o que tenho para dar. Quem está, aproveita-o. Amanhã posso estar deprimida de novo, mas hoje não. E há que aproveitá-lo!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Honestamente pensei que já tinha acabado. Pensei mesmo. Vivia sossegada, adormecida, estava contente com o meu estado de menina de vez em quando, de quando apetecesse, de não me chatear com compromissos, com falta de respostas a telefonemas. Estava contente com este vive on hold, como se estivesse sempre em stand by à espera que me chamassem. Não me importava nada com isso, ia fazendo a minha vidinha de sempre, sem complicações, não vivia em função do “pode ser que ele hoje ligue por isso não saio de casa”. Quando um não chamava, outro ocupava o seu lugar. Noutros dias ficava sozinha e isso não me incomodava. Já não. Estava ocupada. Já tinha desistido de todas as ideias românticas com o Nandinho e com o João. A sério que tinha. Não queria saber nem de um nem de outro como meu companheiro oficial. Continuo a não querê-lo. Ia ter vergonha de apresentar quer o João, quer o Nandinho à família, aos amigos. Não me orgulho de sair com nenhum dos dois. Se falo disso é como distracção, tema de piada, o “vejam lá como estes homens são idiotas”. E são idiotas! Os 2!
Mas gosto deles. Por alguma razão, melhor ou pior, não há um dia em que não pense neles, nos 2. Em separado, raramente em simultâneo. Não há pessoas mais diferentes, embora com alguns pormenores semelhantes, mas isso é tema para outra conversa.
Hoje obrigaram-me a pensar no Nandinho, a falar dele. De tal forma que fui dar uma olhadela aos emails que me mandou. Fiquei tão nostálgica que tive de lhe telefonar. Lembrei-me de ter gostado dele um pouco mais, de ele ter gostado de mim um pouco mais. Será que posso vivê-lo de novo? Voltar à nossa era dourada? Foi curta, mas memorável. Basta lembrá-la para querer voltar atrás no tempo. Não para fazer as coisas diferentes, mas para vivê-las todas de novo, uma e outra vez. Por isso telefonei-lhe. Numa tentativa vã de perceber se seria possível mais uns dias dourados. Parece-me que não, mas nunca se sabe.
Por outro lado acho que devia encarar estas memórias que tenho como o que são: memórias. Os emails deviam ser vistos em papel de carta amarelecido como se tivessem sido escritos pelo amor que morreu na guerra. Morreu, não volta. Devia estar a fazer o luto, não a tentar desenterrar os mortos.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Esperas

A vida engana. Não há como encontrar um padrão constante, basear expectativas em ocorrências anteriores. É tudo aleatório. Não podemos esperar que aconteça uma coisa só porque se repetiu 3 ou 4 vezes. À 5ª vez é completamente diferente, muda de figura, tira-nos o chão. Ficamos de novo sem saber o que esperar, a duvidar de tudo o que julgávamos certo. Temos de recomeçar a montar o puzzle, esperar que as peças voltem a encaixar. Uma vez ouvi na Anatomia de Grey algo como: as expectativas são o que nos mantém de pé, seguros, vivos; as surpresas, o inesperado é o que nos faz mover, mudar.
Às vezes penso saber quando vou receber um telefonema. Conheço os hábitos dos homens com quem me dou. Nesses dias ando sempre com o telefone atrás, ensaio a conversa, sinto-me ansiosa, em pulgas. Umas vezes recebo o tal telefonema, outras obrigo-me a ir dormir para não pensar mais nisso. Porque é que não telefonou? O que terá acontecido? Até que me lembro que não quero saber, que na verdade não estava assim tão interessada nesse telefonema e que, quando ele chegasse, no dia seguinte ou mesmo na semana seguinte, ia entendê-lo quando me apercebesse que nem tenho nada para dizer ou para contar, que não partilho a minha vida com essa pessoa, nem ela a sua comigo. Era um desejo que fosse o contrário, mas longe da realidade. A espera pelo telefonema faz parte do desejo. Quando ele não vem – realidade. Confuso?

segunda-feira, 12 de março de 2007

Chá de camomila

Telefonou-me. Por alguma razão transcendental sabia que o ia fazer. Estava a ver episódios da Anatomia de Grey em cadeia quando, subitamente, me lembrei dele, quando o senti perto, quando até pensei em perguntar-lhe como estavam os seus pais.
Mas não lhe telefonei. Mais pelo hábito de não o fazer do que por outra razão. Continuei a ver a série e depois fui dormir. Tinha acordado às 5 da manhã e estava exausta. Mal caí no sono o telefone tocou. Lembro-me de pensar “só espero que não seja o João”. Não era. O meu coração também não deu um pulo quando vi que era o Nandinho, que se lembrou de dar o seu ar de graça, continuou adormecido, não acordou do sono. “Tenho saudades tuas. Quero pagar-te um chá de camomila.” Sorri e voltei a adormecer.

domingo, 11 de março de 2007

Este é para ti

Sou a última pessoa a quem devias pedir conselhos sobre homens. Sou a desencaminhadora, a que diz arrisca quando, provavelmente se fosse eu na mesma situação, não teria coragem para o fazer. Sou aquela que, em criança, dizia aos amigos para irem tocar às campainhas dos prédios enquanto se escondia atrás de um carro, livre de qualquer castigo. Sou a mentora, raramente a fazedora.
Por isso, quando te digo para não lhe ligares, não quer dizer que eu siga o meu próprio conselho. Às vezes consigo, mas sei que é difícil resistir. O caraças do telefone anda sempre connosco e raramente toca. Quando toca nunca é a pessoa com quem queremos falar. E queremos tanto falar com ela, queremos tanto ouvir aquela voz que nos derrete por dentro, que nos ilumina, que nos faz sorrir. Mas esse telefonema nunca chega e nós, já desesperadas, telefonamos. Nervosas, sem saber o que dizer. Só com o “olá, como estás” e as reprimendas que só nos vão deixar mal dispostas. Olha lá, porque é que nunca mais me telefonaste? Arranjaste outra? Esqueceste-te de mim? Será que não sou nada importante na tua vida? E eles dão-nos repostas que nos deixam insatisfeitas, que não são nada do que queremos ouvir. É sempre assim, por isso é melhor não telefonar. Aguentar o quanto possível. Encontrar distracções. Ler um livro, limpar o armário, pormo-nos bonitas para nós próprias, sair para comer um gelado. Já viste como o tempo tem estado fabuloso?
Vai continuar a ser difícil não telefonar, mas é possível. E no fim a recompensa é tão melhor, tão mais saborosa. Se ele gosta mesmo de ti, vai telefonar. Por iniciativa própria. Porque se lembrou de ti. Aí vais saber que vale a pena gostar dele, que valeu a pena todo aquele tempo de desespero e angústia. Vais até esquecê-lo no momento em que o telefone toque, vai-se tudo evaporar como magia. Nem lhe vais dizer que estás chateada por não ter dito nada durante duas semanas. Vais desfrutar o telefonema, sorrir ao ouvir a voz dele, sentir que voltaste a viver.
Umas vezes conseguimos não telefonar, outras não. É mais forte que nós. Mas garanto-te que, fora os jogos parvos que há nas relações e que não têm nada a ver com isto, quando não telefonamos é tudo muito melhor. Os homens são assim, precisam caçar. E as mulheres precisam ser caçadas, arrebatadas.
Enfim, não falo contigo há já uma semana e não sei como andam as coisas agora. Se calhar até estás no sétimo céu, feliz e apaixonada. Apaixonada e correspondida. Espero que seja o caso. O que merecemos mesmo é sermos felizes. Com eles, ou sem eles.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Interruptor

Fiquei doente. Deixei de viver para o mundo durante uns dias. Só queria estar enrolada na cama, quentinha, a tirar umas sestas e a ver televisão. Só queria a minha mãe por perto, a tratar de mim, a pensar no que é que podia dar-me para comer que não me deixasse mais mal disposta. Maçã cozida. Durante dois dias só comi maçã cozida. Fiz caretas a todas as outras sugestões, fiquei pior com o Nestum, não consegui comer a sopa toda. Mas a maçã cozida era bem vinda.
Tinha uma gastrite, disse-me o médico, quando fui a uma consulta passados dias de sofrimento, em que já chorava com pena de mim mesma, farta de me sentir mal. Veio com uns comprimidos que me atacaram o estômago, foi com outros que o senhor doutor receitou. Pelo menos parece estar a ir. Hoje já consegui ir lanchar e comi uma sandes de queijo inteirinha, já me ri com uma entrevista ao meu grupo favorito, já mandei uma mensagem engraçada ao João…
O João, esse grande tarado. Percebo agora que os dois homens presentes na minha vida são os dois uns grandes tarados. Não conseguem estar comigo sem pensarem tirar-me a roupa. Tenho de gritar, fazer cara má para pararem e mesmo assim, às vezes, vejo os meus botões voarem, arrancados à força. Até quando estou doente, imagine-se! Foi a base da conversa telefónica que tive depois do almoço com o João. Perguntei-lhe se não me vinha visitar, para trazer flores. Na altura suportava as náuseas de ter comido há pouco tempo. A resposta que tive foi que se me viesse ver não era exactamente para me trazer flores… Idiota! Na altura fiquei meio chateada. Mas será que só sirvo para isto? Para ser despida e manipulada. Até quando estou doente só tenho essa utilidade? Não mereço uns mimos, uns beijinhos, uns abraços para ajudar a recompor? Que estúpido! Não tem uma mulher em casa para o satisfazer?
Entretanto, agora estou melhor como já disse. Mandei-lhe uma mensagem a perguntar se ainda estava interessado em ver-me. Tenho um interruptor secreto em mim que liga e desliga a vontade que tenho de o ver. Sem querer liguei-o. Foi um acidente, hoje não merecia sequer que pensasse nele. Sei que já tem a mulher em casa, que já não pode sair. Só vai ligar-me amanhã e amanhã já não estou cá. Com a minha vontade de o ver posso bem. Só tenho de desligar o interruptor da mesma maneira que o liguei. E o dele? Como é que o desliga?

segunda-feira, 5 de março de 2007

No hard feelings

Estive com ele, com o Nandinho. Passado um mês deixei que reentrasse na minha vida. Se calhar nem nunca tinha saído.
A culpa foi minha, que lhe telefonei, e ele, como menino obediente, achou que era uma chamada ao serviço e teve de ir picar o ponto. Nem vi bem o que estava a fazer quando concordei que passasse pela minha casa às 2 da manhã. Pior! Fui eu que fiz o convite para me desviar do dele para ir à casa dele. Fi-lo com a naturalidade que tinha há um mês atrás, com o mesmo hábito. Ele veio da mesma maneira. Chegou e beijou-me como se não me visse há uma semana. Respondi da mesma maneira, que se enfiasse depressa na cama porque estava frio. De repente, despertei. Aquilo não devia ser assim. Devíamos estar sentados no sofá, nervosos, a olhar-nos com desconfiança, a fazer perguntas estúpidas como “como estás” e “o que tens feito”. Ele devia estar a dizer porque não me tinha dito nada durante aquele tempo todo, ou que tinha saudades minhas, ou que lhe tinha feito falta, aquelas coisas que as mulheres gostam de ouvir. Eu devia estar a chamar-lhe nomes, a pedir explicações. Mas nada disso ia parecer normal. O normal connosco era o que estava a ver, o não aconteceu nada, o está tudo na mesma. É que está mesmo. Não há ressentimentos, amargura, coisas más para dizer um ao outro. Há um entendimento, porque quando estamos juntos, com a atenção presa um ao outro, até nos damos bem. Assim o Nandinho junta-se ao clube do João. Perto da vista, longe do coração…

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