segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Boa fase


No outro dia fui à praia com a M. Na altura em que ela se afastou para falar com a prima que também lá estava, o Nandinho ligou. Quando voltou eu ainda estava com o sorriso colado à cara causado pela história das lentes de contacto verdes que ele me contara à segundos. Perante a minha cara perguntou-me com quem tinha estado a falar. Com o Nandinho, respondi-lhe. “E como vai essa história?” Vai bem, estamos numa boa fase. Disse-o na altura sem pensar, da boca para fora, mas depois que reflecti sobre o assunto percebi que não podia ter dito uma coisa mais acertada. Temos convivido pacificamente, apreciado a companhia um do outro. Num dia pode empurrar-me para a cama e rasgar-me a roupa, no outro estar calmamente ao meu lado sem me tocar. Pergunta-me se tenho estado com o “jagunço” fingindo uma pontada de ciúmes e eu minto, digo que não, para não o perturbar. Brinco e digo-lhe que quando me casar ele tem de ir ler à igreja, como fez para os amigos. Ele responde que pensa que nunca vai casar. Continuamos a conversar e sai um “queria ter um filho”. Lembro-me de o ter dito no nosso 1º encontro. Quando lhe ligo ele responde, já não me deixa pendurada durante dias. É certo que está de férias e não tem tanta coisa para fazer, tanta distracção, e pode ser que quando voltar ao trabalho se volte a distanciar, mas no momento estamos numa boa fase. Quase que posso dizer que somos amigos.

domingo, 26 de agosto de 2007

Vaidosices


Quando comecei a sair à noite, por volta dos 17/18 anos (nada como as miúdas de agora que aos 15 já estão na discoteca até às 5 da matina), demorava horas a arranjar-me, a maquilhar-me, a pintar as unhas da cor da camisola que ia vestir, a tentar domar o meu cabelo, que na altura era muito encaracolado, e, segundo consta, era olhada de lado por isso. Se estivesse no Porto, onde as mulheres se produzem a sério quando saem à noite, passava despercebida, mas ali, na santa terrinha, aquilo era sinal de vaidade, de exibicionismo. Não sei porquê. Ao olhar para as fotografias da altura até acho que estava simpleszinha, usava roupa do mais normal que havia, sempre calças e camisolas, no verão lá ia um vestinho de vez em quando porque odiava as minhas pernas, os meus canivetes como o meu pai as chama, mas compensava com a barriga que estava sempre à mostra. Com o tempo fui mudando. Ainda me arranjo bastante para sair, mas se me apetece ir de chinelos e cara lavada vou, não faço disso uma tragédia. Se quando era mais nova me maquilhava sempre que saía de casa e pintava as unhas todos os dias, agora dou graças aos deuses do Olimpo nos dias em que não tenho de o fazer. Uma coisa é gostar, a outra é ser obrigada. Desde que o trabalho que forçou a ter de fazer essas coisas, que perdeu a graça inventar formas para pintar os olhos, misturar sombras, pintar-me toda de uma certa forma só para ver como ficava e depois lavar a cara e ir dormir. Troquei os saltos pelas sapatilhas e pelos chinelos de enfiar no dedo, deixei de esticar o cabelo e deixei que o ondulado reaparecesse, solto e rebelde ou apanhado num rabo de cavalo. As calças vincadas que não largava passaram a calças de ganga, os tops que mostravam a barriga a camisolas à grávida. De mais ou menos sofisticada passei a descontraída.
Mas ela não, ela não desceu do salto. Cruzei-me com ela na esteticista no outro dia e partilhámos um “bom dia” educado. Comecei logo a tremer e escondi-me atrás de um expositor da Clinique onde fingi ver os batons. Só pensava “se ela sabe que estive com ele ontem, se ela imagina que ele ainda agora me telefonou, mata-me! Vai chegar ao pé de mim e dar-me uma bofetada, vai puxar-me o cabelo e dar-me pontapés, vai chamar-me nomes, gritar para toda a gente ouvir. E eu não vou fazer nada, vou encolher-me e esperar que passe. Ela tem razão: eu sou a culpada.” Pensava nisto, imaginava o filme e olhava para ela pelo canto do olho – as sandálias de plataforma, a camisola de marca, o penteado da moda, a cara perfeitamente maquilhada com uma sombra escura nos olhos como sempre – e olhava para mim, vestida como se fosse para a praia, com um par de havaianas nos pés, o cabelo despenteado, as olheiras de quem dormiu mal. Faltou pouco para me sentar num canto e me encolher, enroladinha para que não me visse. O que vale é que ainda tenho alguma coragem e cara de pau que me deixou andar ali, de olhar perdido e nariz empinado. Nesse dia tive pena de não ser tão vaidosa como há alguns anos. Podia estar melhor arranjada, caramba!

sábado, 18 de agosto de 2007


Numa semana de férias, de FÉRIAS, em que devia andar calma e sossegada, a aproveitar o tempo livre, despreocupada, zen, caiu-me mais cabelo do que em 2 meses de trabalho. (Sim, porque o cabelo cai-me quando ando nervosa, ou ansiosa). Parece que passei por aquelas fases de qualquer coisa de (que agora não me lembro, mas vi num episódio do House): negação, qualquer coisa, raiva, qualquer coisa, aceitação. Se alguém souber do que estou a falar, por favor, esclareça-me.
Comecei as minhas férias apaixonada, eludida, via florzinhas em tudo, pensei que finalmente ia resolver a minha vida. Isto no dia 1, mal cheguei do trabalho. No dia 2 as coisas já não me pareciam tão bem, fiquei ansiosa. Afinal porque é que não acontecia nada, se me tinha preparado para o grande 'bam' da minha vida? No 3º dia culpei-me. A culpa era minha, fui eu que fiz tudo mal. Porque é que tinha sido tão bruta? Porque é que não fui boazinha? No 4º dia estive deprimida, muito deprimida. No dia 5 acendeu-se uma luz, uma réstia de esperança, que morreu no mesmo dia, no espaço de horas. Depois veio a raiva, o ódio, a vontade de bater numa certa pessoa até me doerem os pulsos. O que vale é que neste dia fui abençoada com uma presença amorosa, que me mimou, e mimou, e fez com que pusesse em segundo plano todos aqueles sentimentos maus que passaram por mim. Fiquei dona de mim mais uma vez, voltei a subir no salto. Ainda tenho 3 dias de férias. Vamos ver como esses correm.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Copos

Vê-se mesmo que ando a beber demais nos últimos tempos. Chego a casa depois de uma noitada e escrevo aqui coisas tão estúpidas, das quais me envergonho tanto, que mal acordo só penso "não podes deixar aquilo à vista de ninguém, era um delírio, tu não pensas assim". E zás, ligo o computador e apago um post inteirinho. Só espero que ninguém tenha lido. Se leram, por favor, façam de conta que não e nem mo mencionem.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Desafio


Ora bem, já me propuseram dois desafios, e não fui capaz de responder a nenhum. Vou fazer um esforçozito agora para estar à altura do último, sugerido pela Pão com Tulicreme em que devo escrever 7 factos casuais sobre a minha vida. Ora bem, 7 factos sobre mim não deve ser assim tão difícil, por isso cá vai:

1.Odeio acordar ao som do despertador, ou de qualquer outra forma que não seja o meu despertar natural.
2.Adoro a minha mãe, mas nunca lho disse.
3.Distraio-me muitas vezes com a mãe Natureza.
4.Quando estou triste, gosto de me enfiar no carro e chorar enquanto conduzo e canto (berro) alguma música lamechas que esteja a ouvir.
5.Não tenho vergonha de dizer que de dois em dois anos me dá para ouvir a Romântica FM durante uns dias.
6.Alguém me dê uma televisão com canais por cabo e sou capaz de hibernar durante dias.
7.Como todas as porcarias que me põe à frente: chocolates e gomas, rissóis e croquetes, hamburgers e batatas fritas, amendoins, tremoços, cajus, bolos de pastelaria, etc. etc. Depois queixo-me da celulite e que as calças não me servem.

Não vou indicar ninguém para fazer este desafio, estão convidados todos os leitores deste blog que estejam interessados.

domingo, 12 de agosto de 2007

Às 6 da manhã


Por mais que não queira, uma lady tem de se rir quando ouve um menino da idade do seu irmão mais novo, no auge na sua bebedeira, dizer-lhe que está completamente apaixonado por ela, que nem dorme só a pensar num encontro com ela, que lhe diz que é a mulher mais linda do mundo, que a sua noite ficou melhor só por tê-la visto e que deixa escapar um amo-te quando se despedem. Está louco. Se ele soubesse no que se metia...

Para ler

Mulheres de 30, ou lá perto. Aconselho o texto postado no blog da Clara, Vida no Rascunho, (link aqui ao lado) no dia 10. Gostei.

"Postado" existe? Tá-me cá a parecer que já ando a inventar palavras.

sábado, 11 de agosto de 2007


A mulher é um ser complexo, ninguém o nega. Reclama sempre de alguma coisa, nunca está satisfeita. Se não é a vida amorosa, é a profissional, se não é a profissional, é a familiar, são os amigos, é o Bobi que rói os sapatos, etc., etc.. Há sempre alguma coisa que não está certa, que devia ser emendada, alguma coisa que a faça gritar de impaciência, que lhe faça saltar tampa, mesmo que seja o Dalai Lama feminino. Uma vez que começa nunca mais pára. Fica tudo errado. É o talher sujo no restaurante, é a criancinha chorona no supermercado, é o carro que vai a 50km/h à sua frente, é a maçã madura de mais, é a mãe que não fez o que ela queria comer ao almoço, é a roupa que fica mal, é o tempo que não melhora, é o vizinho que está a assar sardinhas no quintal e ela odeia sardinhas, é o saldo da conta bancária, é a internet lenta, é o telefone que não toca... Reclama porque se esquece que tem boas razões para ser feliz, porque só se lembra daquela que a faz infeliz, aquela falha na sua vida que não a abandona. Porque num dia tem toda a atenção do mundo e sente-se deusa, parece que todos gostam dela, que a atenção do mundo está sobre ela, é bajulada, elogiada, apreciada, e ela do alto do seu trono comanda, rebaixa aqueles que lhe parecem inferiores. Manda-os para o campo trabalhar, quer que lhe beijem os pés, mas não quer ser babada. Pensa que comanda a vida daqueles que a adoram, que fariam tudo o que lhes pedisse, então trata-os mal, faz-lhes testes de boa vontade, manda-os ao fim do mundo para buscar o mel das grutas encantadas e eles vão. Ela, ainda insatisfeita, nem agradece, vira-lhes as costa e diz que não chega, que ainda têm de ir ao inferno buscar a pedra mais bela do universo, e eles vão. Vão e perdem-se pelo caminho, encontram uma deusa menor, mas muito mais simples, que fica contente apenas com a sua presença, que não lhes pede o impossível, que até lhes passa a mão pelo cabelo e faz festas, que os beija na boca como retribuição ao beijo nos pés, constrói-lhes um trono e deixa que governem com ela. Eles ficam, rapidamente esquecem a tarefa que lhes tinha sido imposta, esquecem a outra deusa, aquela que adoravam mais do que a vida, e são felizes. A outra deusa fica só, espera impaciente pelo regresso dos seus súbditos, acha-se tão poderosa que acredita que eles vão voltar mais tarde ou mais cedo, que vão voltar a beijar-lhe os pés. Arranja-se todos os dias majestosamente para que a vejam no seu esplendor, começa a pensar nas recompensas, que se calhar desta vez vai deixar que lhe beijem a mão. Mas eles não voltam e ela vai definhando, vai envelhecendo, vai perdendo o encanto que os prendia, vai recusando novos súbditos porque aqueles eram os melhores, insubstituíveis, e começa a reclamar, do talher sujo no restaurante, da criancinha chorona... Vai começando a pensar que se calhar devia ter ajudado na procura da pedra preciosa, que os devia ter acompanhado na ida ao inferno.


Ok, confesso que hoje não é um dia bom. Estou um bocado em baixo. Mas! Tenho esperança! Vai melhorar! Amanhã serei outra. Ah! E já lavei o carro!

Sol encoberto


Acordei cedo hoje e pensei "vou para a piscina apanhar sol, ler um livrinho e ouvir música gira no meu mp3. Não vai estar lá ninguém, vai ser só eu e o sol." Mas o sol falhou ao nosso encontro. Está cinzento, está fresco. Arrepio-me só de pensar em vestir o biquini. Fiquei desarmada, desamparada. E agora? O que vou fazer? Lavar o carro? Varrer o quarto? Tenho de me ocupar, não me posso deixar cair só porque me puxaram o tapete. Tenho de me equilibrar, um pé no ar, os braços estendidos ao largo, como fazem os equilibristas quando andam na corda bamba, abano um bocado tal bandeira ao vento e volto a colocar o pé no chão, inteira, sem partir nenhum bocadinho. Só tenho de encontrar alguma coisa para fazer, que me distraia, que me ocupe, que não me deixe pensar em mim. Caramba! Estou farta disto! Talvez deva juntar-me ao circo e oferecer os meus serviços de palhaça.

Esta fotografia não é a vista da minha casa. Quem me dera! Tirei no Brasil, no ano passado. Este dia estava parecido com o que vi ainda agora quando olhei pela janela. Só que lá choveu. Aqui, felizmente, ainda não e parece improvável.

domingo, 5 de agosto de 2007

Incapazes


Num instante fico triste, no outro deprimida, passo a irritada, louca, rio comigo mesma, sou cabra e rainha do nada. Viro-me de costas para ele e tento reprimir uma lágrima, no segundo seguinte volto-me de frente e subo um pouco o vestido para que possa ver mais um pouquinho de mim, um pouquinho que lhe recuso, que lhe nego. Brinco com ele, com nós dois, e não sei como não reclama. Não diz nada. Suspira, rói as unhas, bate com a mão na perna repetidamente, segura a cabeça com uma mão como se fosse muito pesada. Mas não me diz nada, não me grita “BASTA, Já chega!” Não me dá um abanão para me pôr no meu lugar. Limita-se a ficar ao meu lado, calado, à espera que eu inicie mais um discurso louco e sem sentido. E irrita-me mais um bocadinho. Apetece-me ser eu a abaná-lo, esbofeteá-lo para que tenha alguma reacção. Então vira-se para mim como se me pudesse dar o mundo, como se eu fosse a detentora do segredo da felicidade, e pergunta se gosto dele, se gosto mesmo dele. Podia perguntar-me a cor das cuecas do Bush que ia saber responder, mas esta é a única pergunta para que não tenho resposta. Uns dias sim, outros não, como vou saber. Como se mede o gostar de alguém? Como se sabe se é para a vida toda? Como se arrisca em acreditar numa coisa tão frágil, que desaparece quando menos esperamos? Não respondo. Transfiro para ele a responsabilidade do erro que seria se um dia acabássemos juntos. É um salto para o desconhecido. Pode ser que tenha rede de protecção, pode ser que seja um desfiladeiro, pode ser um campo de algodão doce. Como saber? Tem de se saltar. Mas vai ter de ser ele o primeiro. Depois talvez o siga. Caramba! Porque é que nenhum dos dois é capaz de dar um fim nisto?!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Quem? Eu?


Pois bem, não basta contar apenas as misérias, tenho ainda a tendência a fazer-me de vítima, disse-me ela. Está aí uma coisa em que nunca tinha pensado, nunca me vi realmente no papel de coitadinha, mas se calhar tenho mesmo queda para a tragédia. Mundo horroroso que só me trata mal! Será? Ou serei eu a meter-me em situações inconvenientes? Parece-me que o mais certo é esta última hipótese. Os meus amigos não me dizem que estou errada porque estão do meu lado. Mas qualquer pessoa que ouça falar da minha vida, vendo-a do lado de fora, ao ter de escolher um culpado a ser punido, iria apontar-me o dedo. Sim, sou eu que escolho ter um caso de anos com alguém que tem namorada, sou eu que decido sair com amigos casados (mesmo que não veja mal nenhum nisso), sou eu que inicio relações condenadas logo à partida e decido continuar com elas. Sou eu que faço isto tudo, são escolhas minhas, não tenho de culpar ninguém, nem de me vitimizar. Quem semeia ventos, colhe tempestades e a chuva forte começou a cair agora. Só tenho de segurar bem as paredes da barraca e esperar que não desabe.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Nota da autora


Em conversa com uma amiga, leitora destas confissões, fiquei consciente de que tenho tendência para apenas partilhar as misérias da minha vida, que quem me conhece apenas através deste blog fica com a impressão de que sou uma pessoa triste, que devo andar sempre a chorar pelos cantos. Não é verdade. Gosto de rir, gosto de rir muito, sou geralmente bem disposta e falo destas asneiras minhas com um sorriso nos lábios e um encolher de ombros. Choro, é claro que choro de vez em quando, mas em média uma vez por mês, e faz-me sempre bem. Sou optimista e olho em frente. Considero-me uma boa pessoa, e que vou receber tudo o que já dei em dobrado. Para além disso tenho amigos e família com quem posso sempre contar e só isso faz com que valha a pena estar viva e partilhar o meu riso com eles.

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