Antes do casamento perguntam "Estás nervosa? E o vestido? Como é o vestido?" Tem tudo a ver com a festa, com a música, os comes e bebes, nada de mais. Coisas que sabemos que vão passar, que mesmo que corram menos bem, não são assim tão importantes. E depois o dia do casamento passa e a conversa muda. Bebés. Quando é que vem um bebé? Na minha cabeça até tinha a resposta bem planeada. "Lá para o verão começamos a tentar", dizia. Depois comecei a fazer contas à vida e a pensar "espera lá, mas lá para o verão não tens casa nova onde caiba a criança, nem poupanças para pensar em arranjar uma casa nova". O dinheiro, ai o dinheiro! E posso dizer que estou numa altura da vida em que nunca fui tão bem paga. Mas se os outros com menos conseguem, porque é que nós não conseguiríamos? Questões monetárias à parte, fica o medo e o egoísmo. Medo do parto, medo dos problemas de saúde, medo dos abortos espontâneos e das más-formações, medo do ser má mãe, de enlouquecer. E o egoísmo, esse grande bicho que me grita ao ouvido "olha que nunca mais vais poder dormir até tarde, nunca mais vais poder estar sentada no sofá uma tarde inteira, sem fazer um chavelho, nunca mais vais poder sair de casa apenas com a carteira na mão, e as férias nos trópicos? esquece lá isso nos primeiro anos de vida da criança." Tanta coisa a ponderar, tanta coragem que é precisa. E no entanto, olho em volta, para as minha amigas que tiveram essa coragem, que deram esse grande passo em frente que é deixar de tomar a pílula, que se viram, e algumas ainda vêm, com um corpo estranho, que não é aquele com que sempre viveram, mas que é o delas, esperançosas, com um brilho diferente, desejosas para ter aquele ser nos seus braços, a sonhar uma vida inteira dali para a frente, e quero estar no lugar delas. Estou pronta para isso, é verdade. A coragem está a apoderar-se de mim e posso dizer que até me deixa com o estômago apertado de excitação. Agora resta tratar de algumas formalidades, conversar com o marido e depois é dar tempo ao tempo.