Nem às paredes me confesso

-A miúda é pequenina e continua sentada.
-O líquido amniótico está num nível baixo.
-Existe a possibilidade de ter de se antecipar o parto. Ou a cesariana.
-Apanhei um vírus que me deixou o estômago às voltas.

Só coisas boas.

Reggae

Começaram os sonhos em que vou à casa de banho e a miúda me cai pela sanita abaixo.

- A miúda continua sentada.
- Já é muito difícil calçar os collants
- Já é muito difícil calçar as botas
- Choro com a mínima contrariedade
- Choro com qualquer discussão
- Continuo a morar na casa dos sogros e não vejo as minhas obras a acabar.
- Ando na hidroginástica de preparação para o parto
- Ando no curso de preparação para o parto do centro de saúde
- Ando no curso de preparação para o parto do hospital privado onde espero que a Ema nasça
- Ando cansada
- Adoro senti-la mexer quando me deito para dormir e quando acordo.

- Azia
- Falta de ar depois de subir um lance de escadas
- Mamilos do tamanho de M&Ms de amendoim

Já comecei a lavar as roupinhas novas e mal posso esperar para as ter arrumadas no quartinho dela, todas bonitinhas.

Mais uma coisa a acrescentar aos sintomas da gravidez:

- Todas as palavras relacionadas com a bebé acabam em inha/o.

Help…

Mas quem é que disse que estar grávida era uma coisa maravilhosa? Que a mulher se sentia poderosa? Brilhante? Sexy? E outras coisas que tal? A única coisa que eu sinto é que sou uma pata choca. Ando desajeitada, esquecida, desequilibrada, e só entrei agora no último trimestre. Daqui a um mês só devo bufar. Não gosto de estar grávida, assumo. Não de tudo, mas da maior parte das coisas. Não me venham cá com histórias do milagre da natureza, do privilégio que é e essas coisas todas que só servem para desviar o assunto de tudo o que é incómodo. Há coisas boas, há. Mas há mais más. Quando estiver com o bebé nos braços já não quero saber dessas coisas? Não, mas quero saber agora, que a minha vida é no presente e não no futuro. Valem-me os pontapés na barriga para ficar contente e não andar mal humorada. E saber que ela é minha. Toda minha.

- Já não consigo pintar as unhas dos pés com cor.
- Sinto-me uma contorcionista para apertar as fivelas dos sapatos
- Tenho os pés de um elefante
- Ela dá pulos na barriga ao som das picaretas das obras, provavelmente para me lembrar que está ali já que ultimamente só tenho pensado em medidas de móveis, cozinhas, instalações eléctricas, cores para as paredes.

Sempre que chove não há maneira de tirar esta música da cabeça.

Isso gostava eu de saber.

Este bocado de carne que me nasceu aqui entre as pernas e que faz com que andar de vestido em dias de calor seja muito desconfortável é para quê? Para ajudar a gravidade e evitar que a criança me caia pelas pernas? Ou para me fazer andar de perna aberta e ir alargando os ossos da zona pélvica?

- Já se vê bem a "linha negra".

Enjoar da Tofina durante a gravidez.


So far so good.

E vou ter de me mudar para a casa da sogra. Já estou a agrupar séries para ver fechada no quarto. Sim, sou uma anti social. É assumido.

Já tenho de me dobrar para ver a passarinha.

O meu nariz é desalinhado. Tem um desvio para o lado direito e faz com que a ponta não bata certo com o meio dos dentes. A boca também não parece assentar no sítio certo. É como se tivesse tido um ligeiro avc que me puxa o lábio inferior ligeiramente para a esquerda (coisa que ficou bem provada nas últimas fotografias tipo passe que tirei). É claro que com toda esta assimetria, a risca preta que me havia de aparecer na barriga não podia sair direita, não podia passar bem pelo meio do umbigo. Nada disso! Parece que pus mal a régua e falhei o centro do poço. Vá lá que não foi mesmo ao lado!

Hoje apeteceu-me, APETECEU-ME, limpar o forno.

• Pés inchados - check!
• Poço profundo em vez de umbigo - check!
• Duende demoníaco na cama que me puxa as mamas conforme me mexo - check!
• Fome descontrolada se acordo durante a noite, mas que não se manifesta se dormir até de manhã - check!
• Cocós difíceis - check!
• Metade da roupa posta de lado porque já não serve - check!
• Pernas que roçam uma na outra e têm tendência a criar suor na área - check!
• Barriga de 4 meses que já não dá para disfarçar (e me deixa a olhar para o meu reflexo nas montras para ver se sou mesmo eu) - check!
• Vontade de utilizar todas as caixas prioritárias e lugares de estacionamento especiais, embora ainda não concretizada - check!

O Justin Timberlake tem usado a aliança de casado em praticamente todos os vídeos e actuações. É dos poucos.

As minhas mamas conseguem tocar uma na outra.



E quando dispo o soutien descubro um armazenamento secreto de migalhas perdidas.

Mas sempre que vejo as notícias, tenho vontade de rir com a palhaçada deste governo.
Se calhar em vez de rir, devia chorar.

Estou com a sensação de que hoje vou visitar um filho à prisão. É dia de ecografia.

Ontem chorei a ver os Transformers.

Tenho fome!

Talvez seja este estado inconstante que me vai fazer escrever outra vez.
Ainda acho que não é nada comigo. Que não é real e que um dia destes descubro que afinal estava enganada. A loucura dos primeiros instantes já passou e agora ficou o quê? O que é que passa por mim e me consome quando me apanha desprevenida? A insegurança. É isso. É assim que me sinto. Insegura.
Em relação a tudo.

Estou em negação.

Às vezes apetece-me dizer what goes around comes around ou karma's a bitch a certas pessoas. Mas ocorre-me sempre a mesma coisa: é melhor não cuspir para cima, senão cai-me na cara...

Engraçado como o meu cérebro tem tendência a esquecer coisas más e a perdoar tão facilmente.

E aquele momento em que me apanho a olhar para ele, enquanto faz uma coisa corriqueira como pôr manteiga numa fatia de pão, e sinto uma vontade inabalável de o abraçar pelas costas, e aí sinto o seu calor na cara e penso ser a pessoa mais feliz do mundo só porque ele está ali, porque naquele momento é todo meu.

Em Julho completo a idade de Cristo! Credo! Como a vida passa depressa.