sexta-feira, 4 de abril de 2014

Às 3 da manhã

Cheia de dores, comecei a chorar porque podia estar com um ataque cardíaco e ia deixar a minha filha sem mãe tão pequenina. E quem é que lhe ia dar de mamar? Será que o pai ia saber preparar-lhe o leite? Ele nem deve saber onde estão os biberões. 

(Se é ataque cardíaco ou não, está a durar muito tempo. As dores continuam, uma moínha que se agrava conforme os movimentos, mas imagino ser uma coisa muscular. A miúda está mais pesada e o meu corpinho não estava preparado para o esforço extra.)

terça-feira, 1 de abril de 2014

11 semanas

Ainda acho estranho quando me ouço dizer "a mãe está aqui" ou "a minha filha", embora me saia com naturalidade. A informação vai assentando aos poucos.
Tento dá-la ao mundo. Esconder a cara na asa quando pegam nela e me roo de ciúmes. Já não estou tão mal como nos primeiros dias em que me queria fechar num quarto sozinha com ela e o pai e nem a minha mãe teria ordem para entrar. Aquece-me o coração quando sente a minha falta, quando só se acalma ao meu colo. Sei que esta dependência não é inteiramente saudável, mas faz-me sentir a pessoa mais importante na vida dela. Começo a temer o dia em que tiver de voltar ao trabalho, penso nisso todos os dias.
Ela sorri. Sorri muito. Já adormece sozinha (na maior parte das noites) e deixa-me dormir 5 e 6 horas de seguida. Fala comigo como se fosse adulta, olha-me como se percebesse tudo o que digo. Faz-me querer dar-lhe o melhor do mundo. Todos os dias há descobertas novas que me deixam maravilhada. Cresce tão rápido…
A ficção com crianças assassinadas faz-me mais  impressão. As notícias sobre crianças chocam-me mais (mas felizmente não tenho o hábito de ver noticiários).

Voltei a ler. As saudades que eu tinha de estar embrenhada num livro, querer pegar nele em todos os bocadinhos livres, sentir os dilemas dos personagens na pele… Ainda estou um pouco desligada de mim mesma. Perdi o rabo, ganhei barriga. Se lavar o cabelo uma vez por semana é muito. As minhas unhas estão grandes, descuidadas e não vêem um pingo de verniz há 3 meses. Volta e meia, olho para o espelho com mais atenção e vejo um buço digno de Frida Khalo. E nem vou falar no tamanho dos pelos nas pernas. Começaram as dores nas costas resultantes das más posições e do peso extra que carrego. A minha indumentária favorita é o pijama e uma camisola polar por cima. Regra geral, todas as peças têm alguma mancha de leite bolsado. Mas não me importo. As saídas à rua são controladas pelas horas das mamadas.
Adoro o cheiro dela.

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