sábado, 27 de setembro de 2008

Mal entendido


A nossa primeira crise, digo crise, não discussão, porque não houve gritaria nem troca de insultos. Apenas suspiros resignados, silêncios incómodos, meias palavras e só depois o esclarecimento da conversa mal acabada, comigo a chorar baixinho, enquanto conseguia e o escuro me deixava incógnita, até os soluços se apoderarem de mim e as fungadelas conseguirem ser ouvidas pelos vizinhos do lado. Posso dizer que foi a primeira vez que deixei que me vissem chorar a sério, sem que fossem umas lagrimazinhas a correr pela cara-a-baixo. Isto foi choro com banda sonora, choro a sério com sentimento, lavava a angústia que sentira na hora anterior, o medo que me deixou de olhos abertos sem conseguir dormir até ter aquilo resolvido. Era uma parvoíce, pensava eu, não podia estar a falar a sério, mas então porque é que está deitado a meio metro de mim? Porque é que não fala? Ainda há meia hora estávamos felizes e contentes da vida, como é que isto foi acontecer? O que é que eu disse? Mas será que não percebeu que estava a brincar? E ele, estaria a falar a sério? Não pode. Vá lá, abraça-me. Abraça-me! Um beijinho no ombro, o que quer que seja! E nada. Até que consegui trocar algumas palavras com ele. A muito custo. O diálogo estava todo na minha cabeça, mas não saía. Dessem-me um papel e uma caneta e escreveria tudo o que queria dizer, mas a minha boca estava muda. E depois percebi tudo. E então chorei. Agarrei-me a ele como se me agarrasse à vida e chorei de alívio até ao cansaço extremo. Deixei que me confortasse. Sem dizer nada, no silêncio da noite até adormecer.

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    Minha amiga, com os meus 3+8 anos de experiencia digo-te que isso as vezes acontece e parece que o mundo vai acabar. O melhor é quando acordamos e sabemos que a crise ja passou e so há um sorriso por estar tudo bem... L
    Carina Oliveira said...
    Ainda bem que tudo se resolveu.
    Já tive também crises. Discussões não porque não sou muito desse tipo de coisas.
    Quando algo não está perfeitamente nitido, a minha expressão revela-o de imediato. E por mais que tente disfarçar, não dá!
    Mas também te digo, não há nada melhor do que, depois de tudo esclarecido, aquele beijo. Aquele abraço apertado. E a certeza de que tudo volta a fazer sentido.
    Mais importante do que tudo, acho que esse tipo de crises fortalecem os relacionamentos.
    Um beijinho grande.

    P.S. Dificilmente alguém me vê chorar. Sou muito egoísta nesse aspecto!!!!
    Isa David said...
    ufa! bendita crise que te trouxe de volta à escrita. :P
    beijo grande no ombrinho.

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