segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Nunca mais falei dele, daquele que me atormentou durante anos e anos. Achava que não devia, que quem me ouvisse pronunciar o seu nome ia olhar para mim e procurar alguma reacção que revelasse se ainda me afectava. Afecta, é verdade que me afecta. Também é verdade que penso nele muitas vezes, mais até do que queria. Nunca fiz o luto que devia ter feito por todos aqueles anos perdidos, não passei um mês a chorar pela desilusão que foi, pelos sonhos que tinha e que se foram perdendo pelo caminho, pela falta de luta que dei e pela desistência. Não chorei durante um mês, fui chorando aos poucos durante todos aqueles anos e achei que tinha sido suficiente. Talvez não. Ficaram demasiadas coisas por dizer, demasiadas palavras entaladas na garganta que não conseguiram sair. Porque sou fraca, porque não tinha coragem, porque queria parecer forte e que nada daquilo me afectava verdadeiramente. Talvez fosse por isso que quando me viu chorar pela primeira vez, já no fim da recta, em que já chorava de desespero por não saber o que fazia com ele, tivesse ficado sem reacção, também sem saber o que fazer comigo. Afecta-me, porque nunca lhe disse o que queria e isso vai deixar-me nervosa quando o encontrar. Porque fiquei sem saber se lhe devo dizer olá quando o encontrar, ou fingir que não o conheço. Porque ainda se me mexem as entranhas todas as vezes que me lembro do que aprontou, do mal que me fez e do qual provavelmente nem se apercebeu. E lembro-me de novo de todas as coisas que queria ter dito, nunca foram ditas e agora já nem fazem sentido. Porque apesar de tudo, de todos estes traumas escondidos, sou feliz. Sou feliz com quem me completa, com quem me faz feliz, com quem respeito, com quem confio e com quem planeio toda uma vida. E tinha de ter passado por aquilo tudo no passado para poder dar o devido valor ao que tenho agora, para perceber o que é dar e receber em troca, o se entregar de corpo e alma, sem reservas. Ele conhece-me como sou, sem traços escondidos, todos os defeitos e todas as qualidades, sem medo que possa desaprovar o que digo ou penso. E continua lá. E eu adoro-o.
Sim, o outro afecta-me, vai-me afectando, mas cada vez menos, uma vez por semana, uma vez por mês. As memórias acabam por ficar desfocadas com o passar do tempo. Foi uma história escrita numa sebenta toda esborratada e cheia de erros. Nunca foi passada a limpo. A auto-estima destruída, essa vai-se auto-reparando com uma mãozinha do amor que tenho em casa.
Agora só quero que seja feliz. Como eu sou.

2 Comments:

  1. Segredo Cor de Rosa said...
    Sabes que adoro estes textos.
    Muito bom. No dia que o vires saberás o que fazer, ou dizer, ou mesmo passar e sem fazer absolutamente nada.
    As respostas chegam sempre.

    Um beijinho grande
    Isa David said...
    O tempo, a seu tempo. ;)

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