terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sr. Hélder

Gostava do senhor Hélder. Era educado, culto, informado. Tinha sempre uma palavra a dizer, um cumprimento a dar. O senhor Hélder era engraçado, um Humpty Dumpty, redondinho e de suspensórios. Gostava de escrever aos amigos, gostava de dizer olá às meninas. O senhor Hélder gostava de conversar, e, por vezes, com o egoísmo do dia-a-dia, com a pressa de ir a lado nenhum, fingia que não o via para não ter de parar uns minutos e trocarmos um par de palavras. Não ia custar nada, ele era bem-disposto, mas na altura achava que não estava com vontade se ser simpática, ou tinha pressa para ir arranjar as unhas, o que fosse. E o senhor Hélder morreu. De repente, sem aviso prévio. O senhor Hélder, que era o meu amigo dos tempos em que trabalhei num restaurante, desapareceu e eu nem me lembro da última vez que me permiti conversar com ele, ouvi-lo rir, falar das últimas notícias que tinha ouvido sobre o meu trabalho. Desculpe, senhor Hélder. Não sabia que se ia embora tão cedo. Não sabia que não o ia ver mais. Se soubesse teria atravessado a estrada de propósito para ir ao seu encontro, para lhe dar um beijinho de uma menina bonita, como dizia. Desculpe senhor Hélder, eu não sabia...

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