domingo, 20 de junho de 2010

Notas sobre a minha religião



  • Fui educada como católica praticante. Depois de crescida é que o praticante passou a visitas esporádicas à igreja para casamentos, baptizados e funerais, e mesmo assim tinha dias em que já apanhava a missa a meio. Quando se falou em casar pareceu óbvio querer celebrar o sacramento religioso, embora torcesse o nariz à entrada na igreja e às dezenas de pessoas a olhar para mim (fico um bocadinho nervosa quando sou o centro das atenções - não dava para estrela de cinema).

  • Sempre que vou à missa fico espantada comigo mesma ao apanhar-me a dizer as ladainhas todas de trás para a frente como se ainda ontem tivesse estado na igreja. Ele é o Glória a Deus nas Alturas, o Credo, aquelas frases que se vão dizendo tipo palavra puxa palavra, sai-me tudo catapultado cá para fora sem sequer dar por isso. Foram boas as catequistas. A lição ficou bem estudada. Perguntem-me o número de telemóvel da minha mãe. Não sei dizer.

  • Hoje fui a uma missa completa. Daquelas que duram duas horas. Razão? Fui madrinha do Crisma da minha já afilhada. Chegou-se à parte da confissão e eu pensei cá para mim: Ó P, tu não tens pecados. Não és má, não mentes, não adoras o diabo. Só se for aquilo de morares em pecado (o que será corrigido em breve) e tomares a pílula para não teres bebés antes do tempo. Ah, e não vais à missa todos os domingos. São coisitas leves. Podes ir comungar. Há quanto tempo não comungava? Anos!

  • Enquanto estava na missa estive a cobiçar os arranjos florais. Tenho de ir descobrir qual foi a florista que os fez. O coro de serviço também foi aprovado e está contratado para cantar no casório. Já à igreja é que não há nada a fazer. É feia todos os dias. Não sei quem é que teve a ideia de jumento ao achar que aquele painel de azulejos de, digamos, 10 metros de altura, era bonito e intemporal. Tenho de me lembrar de dizer ao fotógrafo para tentar apanhar o menos possível daquela coisa horrorosa que não tem a ver com nada do resto da igreja. Ai a minha rica cruz de pedra preta num fundo de cimento à estádio da luz que ficou bem lá perdida nas memórias da infância antes deste desastre multi-color!

  • Um dos padres de serviço estava a dormir durante as leituras. No fim comentei o assunto com a minha prima que me disse que ele tem muitas depressões e os comprimidos lhe devem dar sono. Padres deprimidos? Nunca tinha ouvido falar. Seguiu-se a explicação: é que na antiga paróquia as mulheres andavam loucas atrás dele e ele não podia retribuir o sentimento. Era padre. Ahhh...

  • Cheguei também à conclusão que quando a vida me corria menos bem tinha o hábito de rezar a Nossa Senhora. Juro! Só que não pedia paz no mundo nem saúdinha da boa. Pedia que ele me telefonasse. "Vá lá, eu juro que rezo três Avé-Maria se me telefonar." Às vezes resultava. A maior parte das vezes não. Agora deixei-me disso. Para quê, se a vida me corre bem? Se calhar tenho de agradecer pelo que tenho, não? Ai esta mente católicamente formada! Ai este remorso constante! Ai a consciência!

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