terça-feira, 8 de março de 2011

Fui eu que me pus a jeito. Fui eu, é verdade. Sair à noite, sozinha, sem marido, como se tivesse maluca e solteira só podia dar nisto. Tinha esperança que não, mas algo me dizia que sim, que ia acontecer, que não me ia deixar incólume, que não podia ter acabado uma história com aqueles anos todos sem mais uma conversazinha de merda. O carnaval dá para estas coisas. As pessoas bebem e não sabem o que dizem. As pessoas bebem para não lembrar nada no dia seguinte. Ele bebeu e eu não escapei à sua ronda de asneiras.
Quando nos cruzámos na rua e trocámos os cumprimentos do costume pensei "ora, boa, não tenho vontade nenhuma de trocar mais nenhuma palavra com este rapaz, não tenho conversa para ele". Segui a minha vidinha e fiquei descansada. Somos adultos. Pensava eu. E então começaram os sinais da parvoíce, os recadinhos via amigos. "Tira a tua amiga daqui que está a incomodar-me." "Diz à tua prima que quero falar com ela". Está a brincar comigo, só pode, a fazer-se de engraçadinho. A minha cabeça clicou no ignore button, mas estava a adivinhar que a mensagem ia voltar. Voltou. Às 7 da manhã em forma de telefonema. E eu atendi. Mea culpa, eu sei. Não o devia ter feito. Não o devia ter deixado dizer todas aquelas coisas. Que sou a mulher da vida dele, que daqui a uns anos nos vamos encontrar de novo, que tivemos o mundo contra nós e nos tinham separado. Não o devia ter deixado dizer todas essas coisas, mas deixei, porque tinha esperado anos para as ouvir, ou porque me fazia bem ao ego ouvi-las e ter argumentos para debater cada uma delas. Já não sou uma menina tontinha apaixonada que se deixa levar. Tudo aquilo que esteve entalado na garganta durante todos estes anos saiu. Não é assim que se gosta de uma pessoa. O que tu fazes não é gostar de uma pessoa. E chorei. A mágoa ainda estava lá. Estava finalmente a ser ouvida, mesmo sabendo que não se ia lembrar de nada no dia seguinte. E chorei e pensei no MEU homem, no MEU amor, no quanto todos estes devaneios deste anormal me diziam que tinha feito a escolha certa, que estava com a pessoa certa, no quanto eu dava tudo para não ter vindo ao carnaval da terra e ter ficado com ele em casa, sossegados. Porque agora não sei como lhe contar esta história toda e sei que vou ter de lha contar. Sei que o vou magoar só por ter atendido o telefone.

(E é nesta altura que respiro fundo e levanto a cabeça. Nós somos mais do que histórias do passado que ficaram com pontas desatadas, somos muito mais, somos nós, eu e ele, num só, e isto vai ser uma micrograma de pó na nossa história.)

1 Comment:

  1. Cristiana said...
    Conheço a vontade de querer ser ouvida, ás vezes é mais forte que nós.
    Mas penso que esse ser não merece sequer que o cumprimentes, se ele é um cretino simplesmente ignora-o...

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