quarta-feira, 30 de maio de 2007

Palavras por dizer


No livro do Dr. Quintino Aires há uma parte sobre como alguns casais se dão melhor depois de se divorciarem e por vezes se voltam a juntar. Porquê? Porque enquanto estavam casados não falavam a sério um com o outro, não revelavam o que lhes passava na alma, o que achavam estar mal e dever mudar, com medo de perder ou magoar o outro. Depois de separados não há porque guardar rancores, podem dizer tudo sem medos, afinal o mal já estava feito. Aí, surpresa das surpresas, afinal até concordavam nas coisas que estavam mal na relação e que nenhum teve coragem de denunciar. Corrigem esse erro e são felizes de novo juntos.
Depois de ler isto percebi que até posso ter perdido o grande amor da minha vida com esta história de estar calada com medo de ficar sem ele. É claro que quem me conhece vai dizer que não perdi nada, que ainda nem o conheci, que ainda vou ser muito feliz. É o que me digo a mim própria. Mas e se não for verdade? Se era mesmo com ele que eu devia ficar? Se nos acomodámos àquela situação de dualidade e nenhum nunca teve coragem para a expor? Nunca lhe dei a escolher entre mim ou a namorada, nunca o confrontei com a sua vida dupla e obriguei a ficar só com uma das duas. Nunca fiz nada, só me deixei ficar, acomodei-me ao pouco que me dava e achei ser suficiente durante anos e anos. E se por acaso ele achasse que esta indiferença era prova do pouco que gostava dele? Se, quando me perguntava se gostava dele e eu respondia que não, pensava que falava a verdade? Se todos os dias em que não lhe telefonei para ver se me ligava, se tinha saudades minhas, se tomava a iniciativa para me procurar, ele o entendesse como desinteresse da minha parte? O que é que eu fiz na verdade ao longo destes anos todos para que percebesse que gostava dele a sério? Não fiz nada. Só me deixei ficar e respondi quando me chamava.
Sim, estou a arranjar desculpas para a sua canalhice. Ele é mesmo estúpido porque continuou sempre com a namorada, nada muda isso. Era sempre com ela que estava quando dizia que não podia estar comigo. Essa é a realidade. Mas, e se simplesmente estivesse com quem lhe desse mais atenção? Porque na sua cabeça doente essa seria a pessoa indicada para partilhar a sua vida a tempo inteiro, já que lhe dedicaria toda a sua atenção sempre que quisesse, ao contrário de outra que nem lhe telefonava ou procurava todos os dias da semana.
OK. Estou a alucinar. Talvez esteja só com dificuldade em aceitar que foram 9 anos em vão, que os estou a deitar fora sem dar luta, que o facto de ainda me telefonar e mandar mensagens mesmo sabendo que não vai ter resposta quer dizer alguma coisa. Tirando o facto de ser louco.
E eu? Não o sou?

2 Comments:

  1. brgigas said...
    mereces melhor :*
    Isa David said...
    doi tanto, as perguntas repetem-se e as.ausência de respostas também. As nossas histórias repetidas até ao infinito. continuo à espera do dia em que "tudo isto irá fazer sentido" nas palavras da nossa neura das 6h.
    Beijo

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