quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Estou em Faro. Acordei cedinho para ir tomar o pequeno-almoço e juntei-me ao resto da tripulação. Estávamos na palheta, todos contentes a falar de parvoíces que não interessam nada a ninguém, quando chamaram a chefe de cabine para atender uma chamada na recepção. Chamada na recepção? Só se forem as escalas a dizerem que tem de ir voar mais cedo. Antes fosse. Ela voltou meio nervosa, com um sorriso amarelo e um discurso de vencedora. "Pois, saiu o resultado da biopsia que fiz ao peito e foi positivo. Vou ter de ser operada e tratar disto da maneira que tiver de ser." Juro que tive de me controlar para não chorar. Ela continuou a falar, não sei se para nos convencer, ou para se convencer a ela própria, que era normal ter o corpo a pregar-lhe uma partida destas. A mãe já tinha tido, ela já estava à espera. E eu quis dar-lhe um abraço e chorar com ela, mas estávamos ali, num hotel, conhecemo-nos há menos de 24 horas, tínhamos 3 homens a olhar para nós sem saber o que dizer, e não queria desmontar a imagem de força que ela queria mostrar, mesmo a ver que as mãos lhe tremiam e que devia querer estar em qualquer lugar do mundo menos ali com 4 estranhos a olhar para ela, à espera que desmoronasse. Saiu uma festa num braço, um "oh, Ana..." e nada mais.

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