sábado, 11 de agosto de 2007

Histórinha de encantar


A mulher é um ser complexo, ninguém o nega. Reclama sempre de alguma coisa, nunca está satisfeita. Se não é a vida amorosa, é a profissional, se não é a profissional, é a familiar, são os amigos, é o Bobi que rói os sapatos, etc., etc.. Há sempre alguma coisa que não está certa, que devia ser emendada, alguma coisa que a faça gritar de impaciência, que lhe faça saltar tampa, mesmo que seja o Dalai Lama feminino. Uma vez que começa nunca mais pára. Fica tudo errado. É o talher sujo no restaurante, é a criancinha chorona no supermercado, é o carro que vai a 50km/h à sua frente, é a maçã madura de mais, é a mãe que não fez o que ela queria comer ao almoço, é a roupa que fica mal, é o tempo que não melhora, é o vizinho que está a assar sardinhas no quintal e ela odeia sardinhas, é o saldo da conta bancária, é a internet lenta, é o telefone que não toca... Reclama porque se esquece que tem boas razões para ser feliz, porque só se lembra daquela que a faz infeliz, aquela falha na sua vida que não a abandona. Porque num dia tem toda a atenção do mundo e sente-se deusa, parece que todos gostam dela, que a atenção do mundo está sobre ela, é bajulada, elogiada, apreciada, e ela do alto do seu trono comanda, rebaixa aqueles que lhe parecem inferiores. Manda-os para o campo trabalhar, quer que lhe beijem os pés, mas não quer ser babada. Pensa que comanda a vida daqueles que a adoram, que fariam tudo o que lhes pedisse, então trata-os mal, faz-lhes testes de boa vontade, manda-os ao fim do mundo para buscar o mel das grutas encantadas e eles vão. Ela, ainda insatisfeita, nem agradece, vira-lhes as costa e diz que não chega, que ainda têm de ir ao inferno buscar a pedra mais bela do universo, e eles vão. Vão e perdem-se pelo caminho, encontram uma deusa menor, mas muito mais simples, que fica contente apenas com a sua presença, que não lhes pede o impossível, que até lhes passa a mão pelo cabelo e faz festas, que os beija na boca como retribuição ao beijo nos pés, constrói-lhes um trono e deixa que governem com ela. Eles ficam, rapidamente esquecem a tarefa que lhes tinha sido imposta, esquecem a outra deusa, aquela que adoravam mais do que a vida, e são felizes. A outra deusa fica só, espera impaciente pelo regresso dos seus súbditos, acha-se tão poderosa que acredita que eles vão voltar mais tarde ou mais cedo, que vão voltar a beijar-lhe os pés. Arranja-se todos os dias majestosamente para que a vejam no seu esplendor, começa a pensar nas recompensas, que se calhar desta vez vai deixar que lhe beijem a mão. Mas eles não voltam e ela vai definhando, vai envelhecendo, vai perdendo o encanto que os prendia, vai recusando novos súbditos porque aqueles eram os melhores, insubstituíveis, e começa a reclamar, do talher sujo no restaurante, da criancinha chorona... Vai começando a pensar que se calhar devia ter ajudado na procura da pedra preciosa, que os devia ter acompanhado na ida ao inferno.


Ok, confesso que hoje não é um dia bom. Estou um bocado em baixo. Mas! Tenho esperança! Vai melhorar! Amanhã serei outra. Ah! E já lavei o carro!

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    Oh, tal&qual Jessica Simpson!!!


    Deixa, hj (de ha uma semana a esta parte) estamos mesmo em dia não... Visualiza, rapariga!

    Beijo

    Quero SUSHI!
    humpf!
    Pedro M. said...
    Gostei muito do texto. Ainda sou daqueles que está à procura do mel das grutas encantadas... pela quarta vez consecutiva, e ainda com imensa paciência (felizmente? infelizmente?) para tentar cumprir mais objectivos impossíveis.
    Pedro M. said...
    Este comentário foi removido pelo autor.

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