terça-feira, 20 de abril de 2010

Dona Adelina

Desde pequena que reclamo

Sonhei com a minha avó. Com a minha avó que morreu há 10 anos. A minha avó que me criou, que me mimou e que me deixou as melhores memórias da minha infância. Parece que ainda a consigo ouvir dizer "Vocês só sabem arreliar-me". Vi-a matar galinhas, esfolar coelhos, lavar roupa no tanque, apanhar batatas, torrar pão ao lume (o melhor pão torrado de sempre), amassar pão, amassar filhoses, fazer coscorões. No que podia ajudava, ou estorvava. Andava sempre por lá. Fosse em cima da nespereira, fosse a limpar o tanque para o enchermos de água e fingirmos que era uma piscina.

Ia com a minha avó ao terço no mês de Maio, cada semana na casa de uma vizinha. Na altura em que achava que era um prodígio musical até levei o órgão para improvisar o "a 13 de Maio na Cova da Iria". As senhoras não viram o talento que havia em mim. Desisti.

A minha avó levava-me com ela nos passeios organizados pela Igreja. Ia para ver os rapazes, ah isso é que ia.

A minha avó fazia os melhores pastéis de batata que comi na vida. Nunca mais vi pastéis tão bons e a receita perdeu-se com ela. Eram a melhor parte dos farnéis que fazia para as viagens grandes.

No jardim da minha avó havia mil amores-perfeitos. Lindos. E os gatos? Nunca sabíamos quantos eram ao todo.

Sonhei com a minha avó. Estava a ajudar-me a pôr os copos e os pratos de sobremesa no meu casamento. Acordei com saudades dela, daquelas que não dá para matar, mas agora sei que vai lá estar.

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