sexta-feira, 13 de julho de 2007

Educação


Em casa, provavelmente pela mão do meu pai, ou mesmo no colégio de freiras que frequentei, cresci a acreditar que os homens eram criaturas que usavam as mulheres. Usavam para deitar fora. Muita conversa mansa, muito fazer ao piso, e quando já está, quando já atingiram o seu objectivo, o seu orgasmo na cama, é hora de apertar as calças e ir embora. É uma imagem feia, mas é a verdade. São poucos os que gostam de conversar depois do sexo. É muito mais fácil rolar na cama e adormecer. Se a casa não é a dele, melhor, é levantar e ir embora. E pronto, fiquei com esta ideia. Errada. No fim de ir para a cama com ele, com quem quer que o ele seja, não há nada a fazer. É dizer-lhe adeus, preparar logo a despedida enquanto há tempo para falar e ainda não preciso de recuperar o fôlego ou a decência. Sei que é mau pensar assim, mas foi assim que aprendi. Foi a experiência mais longa que tive. O João vinha ter comigo, fazia o que tinha para fazer e ia embora. Falar para quê? Falávamos ao telefone, não era? Havia dias em que já me apetecia chorar mal o via entrar na minha casa e me agarrava. Não tinha tempo nem de olhar para mim. Depois vinham as frases mágicas “já é tarde. Tenho de ir. Pode aparecer alguém”. Ia embora e eu sentia-me usada em vez de acarinhada. Mas estes foram tempos deprimentes. Depois adoptei uma defesa. Dizer não. Não, não mexes aí, não me toques. Não! Tira daí a mão. E assim ia ganhando tempo, ia conversando à minha maneira. É claro que o resultado ia ser o mesmo, mas naqueles minutos em que negava qualquer contacto ia ouvindo aquelas coisas que queria ouvir, que por mais estúpidas ou mais falsas fossem, me aqueciam o coração. “Estás tão bonita hoje. Tinha tantas saudades tuas. Sonhei contigo esta semana...” Assim enganava-me a mim mesma e quando ele fosse embora já não era tão difícil. O pior disto tudo é começar a defender-me desta maneira com quem se aproxima de mim, mesmo aqueles que fazem cafuné depois do sexo e aconchegam debaixo dos lençóis. É o não, não, não até cansar, na esperança de ser mais apreciada enquanto pessoa, para que depois fique a vontade de ficar mais um bocadinho. Será errado?

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    sei lá se é errado... certo, somente que João é João e ninguém mais. Nenhum outro.

    Aliás, certo tb que a João se destinava essa estratégia. Alguém mais a merece?
    brgigas said...
    nem sei que te diga mulher...
    bjs
    Francisco o Pensador said...
    É uma história muito triste,mas se me permite dizer...os homens estão longe de serem todos assim...

    Seria uma pena transformar esse pensamento numa verdade absoluta,não concorda?

    Obrigado e desculpe.

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