Há dois dias que sentia uma coisa esquisita na garganta. Parecia que tinha engolido um cabelo e comesse ou bebesse o que fosse, não passava. Cheguei a enfiar os dedos pela garganta abaixo na esperança de conseguir mexer ou empurar o que quer que fosse que me incomodava. Resultado: tosse de cão ou vómitos que me deixavam com lágrimas nos olhos. Então hoje decidi olhar para o problema de frente. Abri a boca em frente ao espelho e quase que vi a cor das cuecas que vestia. Dei com o problema num clique. Uma coisa feiosa, semelhante a uma afta ou a uma borbulha nojenta da adolescência. Mexi-lhe com um cotonete e nada. Espetei um dedo pela garganta abaixo e parecia rijo. E aí o meu lado hipocondríaco veio ao de cima e comecei a imaginar que era uma coisa muito má, que ia crescer durante a noite e ia acabar por morrer sufocada. A esta altura do campeonato já estava no Funchal e então, sem outro remédio para curar a minha insanidade mental temporária, pus-me a caminho das urgências do hospital. Triagem, depois sala de espera durante uma hora, e então eis que soa o meu nome nas colunas.
Consulta:
Médica (ou enfermeira, nova por sinal, ao estilo de Anatomia de Grey):
- Então, dói-lhe a garganta?
Eu:
- Não.
Médica/enfermeira:
- Então porque é que veio às urgências?
Eu (já a sentir-me uma idiota por estar ali e a tentar manter a compostura):
- Porque me incomoda. (Chamem-me mariquinhas, o que quiserem, já não aguentava a sensação de "cabelo na garganta". Estava a enlouquecer.)
Médica/enfermeira:
- Ok, vamos ver isso. Abra a boca. Ah, estou a ver. Marisol!! Podes vir aqui um instante.
Comecei a pensar o pior. Ai, deuses do Olimpo que até é preciso uma segunda opinião. Será um quisto maligno?
Apareceu outra rapariga do género Anatomia de Grey para espreitar para a minha boca:
- Sim, estou a ver. Dá-me lá a espátula. Essa não, gosto mais da outra. Pronto, assim. Já está. Era porcaria.
Eu, indignada, enojada:
- O quê? Porcaria? - (Na minha boquinha? Nheca!)
Médica/enfermeira 1:
- Sim, comida. Agora já não sente o incómodo, pois não?
- Não... Sinto a espátula e o sabor a madeira...
- Está tratado. Adeus e obrigada.
O quê? Só isto? Sem internamento? Sem exames? Rebentaram-me a coisa esquisita como se fosse uma borbulha e mandam-me embora? E estive aqui à espera durante uma hora a arriscar-me de apanhar uma coisa pior para me rebentarem a cena como se fosse uma borbulha? Sem sequer levar uma anestesiazinha? Nem sequer betadine?? Se soubesse tinha rebentado em casa! Poupava os 5 euros do táxi.
Att Jane Maciel