domingo, 23 de dezembro de 2007

Jantar de Natal


Propôs-se a cozinhar-me o jantar. Ofereci a casa, ele os dotes culinários. Eu estava contente, feliz da vida, acabara de receber uma óptima notícia, um presente de Natal antecipado. Queria contar a todos, partilhar com todos a euforia que se espalhava por mim fora. Concordei ir ter com ele, não levantei nenhuma das minhas reivindicações do costume. Não me preocupei com o atraso que ia gerar quando combinei ir lanchar com a minha prima, quando parei na sapataria para ver a montra ou fui ao clube de vídeo alugar um filme para vermos. Tive de parar para pôr gasóleo. Mas ainda era cedo. Ele esperava. Sabia que sim. Não ia correr nada mal naquela noite, os deuses do Olimpo estavam finalmente do meu lado.
Consegui chegar primeiro. Ele ainda parara pela segunda vez no supermercado para comprar alguma coisa que se tinha esquecido. Aproveitei para fazer um telefonema e juntei-me a ele no caminho a casa quando chegou carregado com dois sacos. Já o conheço há anos, mas cozinhar para mim foi coisa que nunca tinha acontecido. Apesar de tudo, de ser mais uma asneira, mais uma acha para a fogueira, apreciei o momento. Gostei da familiaridade, da cumplicidade, no pôr a mesa enquanto ele descascava os alhos, ao me sentar no balcão da cozinha com um copo de vinho na mão enquanto ele mexia os camarões na frigideira. Sorri com orgulho enquanto lhe dava a boa nova e aqueci por dentro quando me deu os parabéns. Já não o via como aquele que era perfeito para mim, como o meu príncipe. Já lá vão os anos de desespero. Agora em vez de paixão tenho-lhe ternura, carinho. É oficialmente o meu Teddy Bear. É verdade. E isto não é uma coisa má. Sei que não. (A não ser que a namorada dele se lembre de me fazer uma espera e dar-me uma sova. Mas ela é fina de mais para isso.) Vimos um filme aninhados pela primeira vez, ri até chorar ao seu lado e ele pensou que eu estava louca. Pensei em falar-lhe do outro, dizer-lhe que havia outra pessoa, mas não tive coragem. Não quis estragar-lhe a noite. Adormeci, ele foi lavar a loiça e chegou a hora de ir embora.
Não o vou mudar, não quero que mude. Está bom assim.

Resta contar que enquanto preparava o jantar recebi um telefonema do outro toni. Que caraças! Sempre a mesma coisa. Combinam para me deixar louca, é? Fugi para a rua com a desculpa de ir comprar papel higiénico ao supermercado porque não havia em casa. Delirei. Delirei!E voltei com um jantar marcado para esta semana. E é nesta altura que me podem começar a chamar nomes. Estejam à vontade.

1 Comment:

  1. Francisco o Pensador said...
    P,gostaria de lhe desejar um feliz natal e um próspero ano novo.
    Tenho estado um pouco ausente,mas ainda não perdi o gosto e o prazer de ler os seus posts.

    Seja feliz e um abraço.

Post a Comment