sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Acabei de ler o livro da Margarida Rebelo Pinto. Quando ia a meio dei-me ao trabalho de começar do princípio e sublinhar todas as passagens com que me identificava. Foram muitas, mesmo muitas. Parecia que me lia o pensamento, que era eu que escrevia. Nunca gostei muito dela, confesso. Talvez fosse aquela inveja de mulheres, pelo que ela tem que eu sempre quis. Mas enquanto lia o livro só me apetecia falar com ela, perguntar-lhe se tinha vivido mesmo aquilo. Como era possível duas pessoas viverem a mesma história com 2 anos de diferença? (Até no tempo estávamos em sintonia, já que termina o livro com a data de 28 de Fevereiro de 2005.) Ou será que nós mulheres vivemos os nossos amores e as nossas perdas da mesma forma?
Ela escreveu o livro. Eu li-o e sublinhei. Podia copiar tudo, mas seria demais. Sugiro aos interessados que o comprem. Ela escreveu ao seu amor, eu sublinhei a minha ideia de amor. Não amei o Nandinho, nada disso. Nem de perto. Mas gostei dele, da ideia de amor que me deu. É estúpido, mas deu-me mais num mês do que tive durante a vida inteira. É a isso que digo adeus. Aos abraços, à cumplicidade, à confiança, ao poder ter sido.
Queria mandar-lhe o meu livro, todo sublinhado, despedir-me dele a preceito. Mostrar-lhe a minha coragem com estas confissões. Mas é uma coragem que não existe, por isso não vai saber do meu desgosto. Não vai saber da minha vontade de amar e ser amada. De como no entretanto a minha vida é cinzenta. Não vai saber como o apago da minha vida, de como deixo de falar dele, de como fujo das suas fotografias, da sua voz na rádio, de como prefiro não saber o que tem feito, como se sente, qual o seu estado de espírito. Não quero notícias dele, quero voltar ao tempo em que não o conhecia.
E depois um dia vai telefonar-me (os homens telefonam sempre quando cheiram que estão a perder uma das suas conquistas) e eu vou fingir surpresa quando estava à espera daquele telefonema há meses e meses. Vou dizer que está tudo bem, perguntar pelas novidades, fingir-me muito feliz e que nunca me partiu um bocadinho do coração.

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