domingo, 16 de setembro de 2007

Ódio?


À Aurora Aboim


Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...


Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!


Ah! nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!


Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena...


por Florbela Espanca


Sempre gostei deste poema. Quando o li pela a primeira vez já dizia tudo o que me passava pela cabeça, e durante estes anos todos acompanhou-me colado nalguma parede do meu quarto. Era como um lema de vida, um objectivo. Quero fazer isto. Quero sentir isto. Mas nunca cheguei lá. Fiquei pelo triste olhar e pouco mais. Ódio também não tinha, mas isso não me ajudou em nada. Pois agora odeio! E mesmo que não ache saudável sentir estas coisas más, odiá-lo permite-me gritar, bater-lhe se o encontrar na rua e exorcizá-lo de uma vez da minha vida.

2 Comments:

  1. Isa David said...
    o ódio está a um passo do amor. É esse o problema...
    que fazes na 5a? vou estar na tua 2a base :)
    Clara del Valle said...
    hum... "nunca mais amá-lo é já bastante!" Ou pelo menos deveria... rs

    Espero MSM que teu ódio não seja a lá Roberto Frejat: "odeio-te, meu amor!!" kakaka

    bjs

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