segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Elogios


Acordou-me às 6 e meia da manhã com um telefonema. Não estava no seu perfeito juízo, é claro. Notava-se pelo entusiasmo com que falava, pelo discurso repetitivo, pelas 100 vezes que disse o meu nome, primeiro e último, que me chamou 'esta gaja'. Noitada rija, já se estava a ver. Adivinhei porque me telefonava. Tinha-lhe enviado um email há dois dias. Nada de especial, uma resposta mais elaborada a uma pergunta que me tinha feito. Lá me devo ter excedido na honestidade, pensei eu. Vai dizer já que isto tá tudo acabado, que vou querer demais dele. Mas não ouvi nada disso. Pelo contrário. Elogios. Ouvi elogios. Sabes que escreves muito bem? Sabes que gosto mesmo muito daquilo que escreves? Escreves como eu. Este mail que me mandaste, eu era capaz de o assinar. Se fosse escrever um livro com alguém era contigo. E és engraçada. És tão engraçada. Fazes-me rir. E eu penso “porra, como é que ela o faz tão bem se só lê porcaria?”. Como é que uma hospedeira escreve tão bem? Sumo de laranja? Mais um croissant? E eles não sabem que és tu, que escreves tão bem. Como é que pode ser? Como, se só lês porcaria, livros da treta?
Ri com aqueles disparates todos, ri quando repetiu pela milésima vez o meu nome, quando disse mais uma vez “mais um croissant”, e depois comecei a ficar incomodada. Elogios? Mas que raio de elogios! Está a chamar-me bimba. Está a pôr-me na prateleira das meninas sem cabeça só porque sou hospedeira e porque uma vez por ano até leio um livro da Margarida Rebelo Pinto ou coisa parecida. Ouve lá. Só falta dizeres que me visto mal. Sabes que andei na universidade? Que até tirei o curso de jornalismo? Tive um professor muito bom chamado Carlos Pessoa que me ensinou muita coisa. E ele continuou. Mas é estranho, é tão estranho. Como é que consegues? E sabes que sou muito exigente com o que leio. Isto é mesmo o maior elogio que te posso dar.
Depois começou a conversa do cabrão profissional, como se auto-intitula. Sabes que eu criei estas defesas, que nunca me vou apaixonar, que tenho (pausou como se contasse pelos dedos) não sei quantas gajas. Por isso já sabes, quando encontrares outro homem de quem gostes agarra-o. E ele vai ter tanta sorte, nunca vai saber o valor que tu tens. Disse-lhe que era para o ano, que ia encontrar alguém certo para mim para o ano. Não! Nós ainda vamos andar juntos 8 anos, vais ver. Bolas, será que não me chega já uma história dessas. E se tivesse de fazer um top, tu estavas lá. E se tiver de ir a um jantar importante, é contigo que vou. És gira, todos gostam de ti. Caladinha, mas interessante. Etc., etc.. Fiquei sem sono para voltar a dormir
Olhem que bonito. Tanto elogio. Ou será conversa do bandido?

4 Comments:

  1. Pedro M. said...
    Conversa do bandido, não. Devaneio egoísta, mas do bandido à mesma :P

    Bj*
    Isa David said...
    Grrrrr, vou-lhe bater, grrrrrrr
    Isa David said...
    é que, ainda por cima, acha que és boa simplesmente porque és, na optica esgoista que o caracteriza, parecida com ele. Que podia assinar em baixo... humpf.
    Anónimo said...
    Mas que é um bandido divertido, que te faz rir, lá isso é ele!

    Faz como eu, enquanto o certo não chega, aproveita com o errado...

    Beijos e abraços
    (vou jogar no eurom, c a sorte com k ando nos amores, só pode dar algum dinheiro!)

    R

Post a Comment