quarta-feira, 7 de março de 2007

Interruptor

Fiquei doente. Deixei de viver para o mundo durante uns dias. Só queria estar enrolada na cama, quentinha, a tirar umas sestas e a ver televisão. Só queria a minha mãe por perto, a tratar de mim, a pensar no que é que podia dar-me para comer que não me deixasse mais mal disposta. Maçã cozida. Durante dois dias só comi maçã cozida. Fiz caretas a todas as outras sugestões, fiquei pior com o Nestum, não consegui comer a sopa toda. Mas a maçã cozida era bem vinda.
Tinha uma gastrite, disse-me o médico, quando fui a uma consulta passados dias de sofrimento, em que já chorava com pena de mim mesma, farta de me sentir mal. Veio com uns comprimidos que me atacaram o estômago, foi com outros que o senhor doutor receitou. Pelo menos parece estar a ir. Hoje já consegui ir lanchar e comi uma sandes de queijo inteirinha, já me ri com uma entrevista ao meu grupo favorito, já mandei uma mensagem engraçada ao João…
O João, esse grande tarado. Percebo agora que os dois homens presentes na minha vida são os dois uns grandes tarados. Não conseguem estar comigo sem pensarem tirar-me a roupa. Tenho de gritar, fazer cara má para pararem e mesmo assim, às vezes, vejo os meus botões voarem, arrancados à força. Até quando estou doente, imagine-se! Foi a base da conversa telefónica que tive depois do almoço com o João. Perguntei-lhe se não me vinha visitar, para trazer flores. Na altura suportava as náuseas de ter comido há pouco tempo. A resposta que tive foi que se me viesse ver não era exactamente para me trazer flores… Idiota! Na altura fiquei meio chateada. Mas será que só sirvo para isto? Para ser despida e manipulada. Até quando estou doente só tenho essa utilidade? Não mereço uns mimos, uns beijinhos, uns abraços para ajudar a recompor? Que estúpido! Não tem uma mulher em casa para o satisfazer?
Entretanto, agora estou melhor como já disse. Mandei-lhe uma mensagem a perguntar se ainda estava interessado em ver-me. Tenho um interruptor secreto em mim que liga e desliga a vontade que tenho de o ver. Sem querer liguei-o. Foi um acidente, hoje não merecia sequer que pensasse nele. Sei que já tem a mulher em casa, que já não pode sair. Só vai ligar-me amanhã e amanhã já não estou cá. Com a minha vontade de o ver posso bem. Só tenho de desligar o interruptor da mesma maneira que o liguei. E o dele? Como é que o desliga?

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    Rapidas melhoras (no geral!)...

    Beijos

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