sábado, 31 de março de 2007

Em recuperação

Escrevi isto da lavagem ontem. Depois daquela noite horrorosa e de ter chegado a casa e chorado durante meia hora, acabei por só dormir 5 horas. Levantei-me da cama depois de falar com uma amiga ao telefone e de contar mais ou menos o sucedido. Os homens são mesmo anormais. Não há nada a fazer. Aquele caso com o Nandinho estava condenado, arrumado. Sem recuperação possível.
Não ia estar nem mais um minuto em Lisboa. Ainda há poucas horas, tinha dito a uma colega, a quem tinha dado boleia para casa, que sempre que ficava em Lisboa era para fazer alguma asneira. Estava confirmado. A asneira estava feita.
Voltei para a terrinha para passar as folgas logo que consegui enfiar uma roupa decente, acalmar o estômago que passava por uma ressaca dos dois copos que bebi e enfiar a roupa que tinha vestida na noite anterior num saco para ir direita à máquina de lavar. Abri as janelas para arejar aquele cheiro a tabaco e álcool que pairava no ar e vim embora. Óculos de sol postos. Olheiras profundas por baixo.
Cheguei à hora de almoço. A minha mãe esperava-me e só me perguntou se estava mal disposta. Estou de ressaca, respondi-lhe. Não quis alongar mais o assunto. Se falasse no desastre que tinha sido a noite ia chorar mais um bocado e não gosto de chorar à frente de ninguém, nem da minha mãe. Ainda mais, quando lhe telefonei para dizer que ia ficar em Lisboa para sair com o Nandinho, ela perguntou-me se afinal ele não tinha uma namorada. ‘Ó mãe, sei lá se tem uma ou duas. Isso não me interessa.’ ‘Assim não vais lá,’ disse-me. Pois claro que não.
Enfiei uma fatia de pão-de-ló pela goela abaixo, com uma caneca de café, e saí de novo. Tinha combinado ir ao café com a melhor amiga. Uma das. Continuava horrorosa. Com olhos inchados pelo choro, pela noite mal dormida, pela ressaca. Nem me preocupei em disfarçá-lo. Hoje é um dia não. Mal me sentei ela disse-me “Vou pedir-te para subornares o Nandinho”. Olha que raio! Será possível?! Disse-lhe que provavelmente não ia voltar a falar com ele e vomitei um resumo da história. Sempre com o sorriso idiota de quem é muito forte mas está destruída por dentro. Ela já deve estar farta de o ver, mas nem comenta. Sabe como sou.
Voltei a casa e escrevi-lhe, ao Nandinho. Tinha dito que o ia fazer. Que ia ter uma carta de reclamação. Despejei tudo. O que raio andava a fazer comigo? Se sabe que só faz asneiras, porque continua a insistir? A resposta veio logo depois. Gosta de estar comigo, mas no momento devíamos fazer uma pausa. Mais um murro no estômago. Lá me fui enfiar no chuveiro e chorar que nem uma perdida. Pela última vez.
Vesti-me e fui lanchar com as minhas primas. Ficar em casa não faz bem a ninguém. Na pastelaria disse-lhes, a elas e à minha mãe, que mais uma vez tinha deixado de falar com o Nandinho. Justificação: é estúpido, não há nada a fazer.
Encontrei a minha amiga que se separou do marido, apaixonada por outro, e ouvi as suas queixas. (Tem graça, ultimamente não ouço uma pessoa dizer bem dos homens com quem estão. As que estão bem não dizem nada, as outras só dizem mal.) Tadinha dela. Os últimos tempos não têm sido nada fáceis. Se não estivesse tão cansada e tão em baixo ia jantar com ela, tirá-la de casa. Mas ontem não ia ser capaz de levantar o ânimo de ninguém.
Regressei a casa. Pelo caminho não resisti em ouvir o Nandinho na rádio e tentar perceber se tinha a voz triste, se este episódio o afectou de alguma maneira. Que idiota que sou. Mesmo estúpida! Como se ele tivesse gasto mais de dois minutos a pensar em mim. Sim, pensar assim é um sintoma de ego em baixo. Mas no caso dele acho que é mesmo assim. Não perde tempo com chatices.
Cheguei e despejei a história da noite passada para o blog. Escrever é terapêutico. Li mais uma vez a frase “gosto de estar contigo…acho que devemos fazer uma pausa”.
Jantei uma fatia de pão com paio, bebi um copo de 7up e vi um pouco da telenovela nova da TVI. Entretanto eram 11 da noite. Continuava sem dormir. Parecia que queria que o dia não acabasse, que acontecesse alguma coisa que o fizesse virar ao contrário, que apagasse tudo. O meu lado positivo a funcionar quando não deve.
Fiz um sudoku na cama, depois outro, depois outro e finalmente desisti. Apaguei a luz e adormeci.
Acordei às duas da tarde! Renovada. Está sol lá fora. Com vento, mas ele brilha. O vento até é bom, leva as nuvens. Já não tenho lágrimas para chorar. Acabou-se. Pode ser que não, que ainda haja mais uma recaída. Mas essa será outra história, escrita noutro livro e com outras regras de pontuação.

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