sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

O meu salvador

Conheci o Nandinho no avião. Onde mais? Vinha distraída com a contagem de passageiros quando dei de caras com ele. Só consegui fugir e ir esconder-me na galley. Já o conhecia da televisão e da rádio. Até tinha ido assistir a uma palestra que deu há uns anos. Até tinha o livro dele, e uma passagem fotocopiada na parede do meu quarto. Achava-lhe graça. As minhas colegas acharam-me graça e foram pedir-lhe um autografo para mim. Uma vergonha, até corei.
Depois da história do avião trocámos emails. Numa noite em que saí e bebi demais trocámos sms e dp, quando cheguei a casa, telefonei-lhe. Combinámos encontrarmo-nos no dia seguinte. Era o nosso 1º encontro oficial. Tenho uma vaga ideia de como foi. Tive um acidente de automóvel nessa noite, e essas memórias sobrepuseram-se ao nosso passeio, deixou-o debaixo de nevoeiro.
Mas lembro-me de ter ficado assustada quando entrei no carro e ele me agarrou. Pensei que era um tarado psicopata. Não me conhecia e já me queria beijar e apertar. Quase fugi do carro. Depois disso lembro-me de ficar envergonhada quando me fez andar de mão dada com ele, quando me abraçava no meio de mil pessoas. Lembro-me de pensar que era louco se pensava que ia dormir com ele logo naquela primeira noite. Lembro-me de estar na viagem de regresso a casa e pensar que aquele tinha sido um dia muito estranho e que se calhar até podia ter ficado a dormir com ele, porque naquele momento já sentia falta das suas mãos teimosas em cima de mim.
E tive o acidente. No segundo do embate pensei que ia morrer. Foi a única coisa que me passou pela cabeça. Não vi a vida a passar diante dos meus olhos, não pensei na minha mãe, nem em ninguém. Só pensei "pronto, já está! É aqui que morro." Andei às voltas na estrada e destes 3 ou 4 segundos não me lembro de nada. Talvez só estivesse a fazer força para não morrer, a rezar para que nenhum carro me batesse, a pedir ao meu anjinho da guarda para desviar todos os carros que continuavam a passar. Não sei . Sei que quando saí do transe e vi que estava viva e sem nenhum arranhão pensei "o meu pai vai me matar". Depois telefonei ao Nandinho. Não sei porquê, foi a primeira pessoa a quem liguei, o primeiro nome que me veio à cabeça. Só depois pensei em seguros e em reboques. Só quando tudo estivesse resolvido é que ligaria à minha mãe.
Foi nesta noite que o Nandinho se tornou no meu salvador. De tarado psicopata subiu a uma categoria superior indefinida.
Foi ter comigo mal soube do acidente, e quando chegou abraçou-me. Abraçou-me e abraçou-me e eu achei que não havia lugar melhor para estar. O meu melhor abraço de sempre, aquele que veio quando era preciso e nem precisei pedir, aquele que diz que está tudo bem, que reconforta, que não deixa cair na tristeza. Já tive muitos acidentes, mas nunca tinha tido um abraço...
E assim o Nandinho se transforma no meu salvador.

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