A minha vida amorosa é complicada. Complicada, porque quero que seja complicada. Nunca fui obrigada a nada e tive muitas hipóteses para desistir de tudo. Mas não quis. Estava apaixonada. Estava enfiada num buraco desde os meus 18 anos. Um grande buraco porque agora tenho 26 e ainda não consegui sair dele. Estou a fazer progressos, finalmente estou a iniciar a escalada para escapar à prisão, mas ainda não tenho certezas de nada. O mundo dá tanta volta que amanhã posso voltar a estar apaixonada por ele. Vou chamar-lhe João.
Eu e o João.
Foi daquelas paixões fortes que nos tiram o sono e deixam mal dispostos. Foi daquelas paixões que começam mal e nunca se endireitam.
Eu e o João.
Conheci-o como o playboy da minha vilazinha. Até tinha a alcunha de ferrão profissional, se é que me entendem. Típico menino rico, loiro e de olho verde, com as meninas todas aos seus pés.
Achei-lhe graça, é claro. Ele também me achou graça e adicionou-me ao harém. Na estupidez dos meu 18 anos achei que gostava mesmo de mim. Na estupidez dos meus 19, 20, 21 anos continuei a achar que gostava mesmo de mim. Depois soube que namorava a sério com outra rapariga, mas continuei a pensar que gostava mesmo de mim. Era a esperança a falar mais alto. Neste caso devia tê-la matado logo no início, mas é pior do que os gatos, tem 3000 vidas e até hoje não morreu. Continua lá no fundo do meu cérebro a dizer-me que ele vai deixar a namorada para ficar comigo, porque na verdade gosta mesmo de mim. E com isto já lá vão 8 anos. 8 anos! O que eu podia ter feito em 8 anos?!
Deixei andar, contentei-me com os encontros secretos, com os telefonemas e os "tenho saudades tuas". Deixei de lado o meu sonho de casamento, de ter filhos, e achei graça à vida de amante. Consegui encontrar pontos positivos no ser a outra. Fiquei de tal forma viciada nele que qualquer tentativa que fizesse para acabar com tudo me deixava doente e caía na tentação mal aparecesse a primeira oferta para um encontro.
O João é a minha doença, o meu buraco negro. Deixa-me eufórica, feliz e animada e rancorosa, mal-humorada, irritadiça. É o meu tudo e o meu nada, a minha droga. Não consigo resistir-lhe embora goste cada vez menos dele. Irrita-me, deixa-me sem paciência. Mas quando chega perto de mim e me toca, o meu mundo vira do avesso e sou dele. Faz de mim o que quer. Uma das minhas melhores amigas diz que provavelmente vou continuar a encontrar-me com ele mesmo depois de casada e não sou capaz de contrariá-la. Acredito no que diz. Mas atenção homens deste mundo! Isto é uma probabilidade mal estudada. Não comecem já a pensar nos palitos que vos vou pôr. Se a coisa for séria não vou ter tempo para pensar noutro homem. Se não for séria é que o caso muda de figura.. Estou a brincar. Como já disse, nunca se sabe o dia de amanhã. E ao que parece, há hipóteses de isto acabar ou pelo menos diminuir a intensidade. Vou começar a tomar doses mais pequenas desta droga. Estou em recuperação. E o meu padrinho é o Nandinho. O meu salvador.